segunda-feira, 2 de maio de 2016

Amanda (parte 1)

(história anterior)

Demasiadas destas histórias começam sempre da mesma maneira: com o sujeito a ser colocado inconsciente e a acordar preso a algum lado e à mercê dos seus captores (ou suas captoras), que irão submetê-lo a toda a espécie de torturas e abusos maioritariamente sexuais. Por isso mesmo, vós deveis estar à espera que este seja diferente.

Infelizmente, não é o caso. E, para variar um bocado (ou não), fui eu o alvo das bebidas dopadas da irmandade Karabastos. Todavia, desta vez a coisa teve uma particularidade: em vez de acordar fechado numa cela, dei por mim deitado numa marquesa, absolutamente incapaz de mover um músculo que fosse, nem sequer o pescoço. Ainda pensei que eu pudesse estar firmemente amarrado; todavia nem sequer me conseguia debater, nem mexer os dedos, nada. Era quase como se o meu corpo estivesse morto... A única coisa que conseguia mexer eram as pálpebras, mas muito a custo.
Não vou mentir se disser que aquela situação me estava a causar um enorme desconforto. Porque estava eu assim? Que me haviam feito para eu ficar naquele estado?
- O nosso paciente já acordou. – ouvi uma voz conhecida a declarar, a voz de Andreia.
- A nossa paciente, queres tu dizer! – corrigiu-a outra voz, a de Ana.
Pude ouvir passos a aproximarem-se do lugar onde eu estava deitado, ao mesmo tempo que pensava porque se teria referido a minha esposa a mim no feminino. Então, duas raparigas loiras debruçaram-se sobre mim, parecendo observar-me com atenção – e logicamente eu fiz o mesmo com elas, reparando no seu rosto artificial, à laia de bonecas, e nos seus uniformes de enfermeira de látex azuis-claros. Tanto quanto eu podia ver, podiam perfeitamente ser duas pessoas quaisquer com as vozes das irmãs Karabastos…
Elas observaram-me durante algum tempo, antes de começarem a dialogar uma com a outra:
- O transplante de rosto parece ter sido bem-sucedido. – proferiu Andreia.
- Sim, o paciente exibe agora traços genuinamente femininos no seu rosto.
- Lábios carnudos e volumosos… – e uma mão apalpou-me a zona da boca (algo que não senti, provavelmente derivado daquela anestesia que me paralisara o corpo) – … bons para beijar. – acrescentou com um sorriso.
- O seu peito está firme e arrebitado, os implantes mamários escolhidos foram colocados com sucesso. – voltei a sentir uma mão a tocar-me no corpo, desta feita na zona do peito. – A cintura foi apertada ao máximo, possuindo o paciente agora uma bela “cinturinha de vespa”. Mesmo assim ainda usa um corpete para ver se se aperta ainda mais.
- Pernas e corpo livres de toda e qualquer pilosidade, novos antebraços enxertados, o seu pé e tornozelo direitos foram substituídos… que foi feito ao seu órgão sexual?
- O que estava previsto era ser convertido numa ratinha, segundo os enfermeiros a operação foi feita mas ainda não se pode mexer nessa área, daí os pensos que “a” paciente tem.
Depois daquele diálogo (que acabou por servir mais para eu perceber o que me haviam feito), senti uma pressão no braço, com algo a ser-me lá injectado. Desde essa injecção, e muito gradualmente, comecei a ter novamente sensibilidade no meu corpo. Fui experimentando os músculos, mexendo ao de leve os braços e as pernas, verificando que eu não estava preso a nada. Todavia, quis falar e não consegui abrir a boca.
- Calma contigo… – um braço fez-me erguer e continuar quieto no meu lugar – Ainda não estás pronta na tua nova pele do mais novo membro da família Karabastos.
A outra rapariga foi buscar um espelho e colocou-mo à frente; e quando captei a minha imagem reflectiva, tive um choque: não me conheci! Pude ver do outro lado do espelho uma rapariga sem cabelo (e digo “rapariga” porque a maquilhagem que aquela cara e olhos tinham eram típicos de uma menina) e com a boca e queixo ainda envolvidos por tiras brancas de linho; tinha um peito com dois seios volumosos de auréolas grandes e a “cinturinha de vespa” a que elas haviam aludido era reforçada por um corpete branco; os meus braços tinham um aspecto esquisito, pois eram os meus até à zona do antebraço, onde tinham mais uma tira de linho e, daí até às mãos, o seu aspecto era artificial, até às unhas pintadas de encarnado; o baixo-ventre, tal como elas haviam referido, estava ainda envolvido por mais linho, mas podia ver-se que tinham uma tonalidade mais artificial tal como as mãos; e as pernas estavam já cobertas por meias de nylon brancas que deixavam ver os dedos com unhas pintadas de encarnado. Logicamente, tive um choque ao perceber que aquela rapariga era eu.
Como já tinha controlo sobre os meus movimentos, pude olhar para as duas raparigas que me ladeavam e, apesar de soarem a Ana e Andreia, tinham um aspecto muito diferente do habitual. Como já referi, ambas vestiam fardas de enfermeira em látex azuis e brancas, bem justinhas ao corpo, tinham luvas brancas de látex nas mãos, sapatos de salto-agulha brancos e as pernas cobertas por látex transparente. E tinham rostos parecidos ao meu – ou quase similares – numa cabeça de cabelos loiros.
Elas começaram a desenrolar as tiras de pano que eu tinha à volta do maxilar e fiquei a olhar, pelo espelho, para uma boca de lábios “carnudos e volumosos” como elas haviam descrito; e uma delas saiu da minha beira e regressou com uma cabeleira loira idêntica à delas, que foi prendendo à minha cabeça.
- Que estão vocês a pensar que estão a fazer?! – perguntei, assim que a minha boca ficou livre.
Nenhuma delas me ligou, continuando o seu trabalho. Assim que elas acharam que o mesmo estava terminado, ambas me fizeram levantar da marquesa e ficar de pé com ambas as enfermeiras a meu lado. Olhei para a minha perna direita, que elas apregoavam ter “substituído”: aparentava ser igual à outra, todavia ambas estavam cobertas por látex. Só que, quando fiz força naquela perna, não senti dor nenhuma!
- E como te haveremos de chamar, nova irmã? – perguntou a da minha direita: Ana, indiferente aos meus movimentos.
- Bom, se és da nossa família, tens de seguir os nossos usos… – continuou a outra: Andreia – Que tal… “Amanda”?
- Óptimo!
- Vocês estão a gozar, certo? – protestei – Que significa tudo isto?
Ana ficou à minha frente e colocou os braços em cima dos meus ombros.
- Querida Amanda, nunca quiseste saber como é que conseguimos fazer as nossas loucuras, como nos conseguimos parecer tanto umas com as outras? Resolvemos dar-te um cheirinho do que conseguimos fazer… mas só um cheirinho!
- Isto é um cheirinho?! – protestei.
Ambas soltaram uma gargalhada; encolhi os ombros e decidi-me a deixar-me levar por elas: tudo aquilo era imensamente confuso, não percebia nada do que se estava a passar e queria ver quais seriam os seus planos. Só esperava que elas não tivessem ideias de me tentar submeter, dominar ou de me enfiarem coisas no cu…

continua...

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