segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

O play lésbico (parte 1)


Engoli em seco e olhei para Andreia. Quando ela me desafiou para um play de dominação lésbica na festa que Miss Silva ia dar na sua mansão, acedi sem hesitar. Só depois me caiu a ficha e fiquei a pensar naquilo. Ela era casada com uma mulher (tudo bem que fosse uma mulher dotada de um órgão sexual masculino, mas uma mulher de qualquer forma), porque não fazia o espectáculo com ela? É que, apesar de eu ser modelo fetichista e ganhar a vida a ser fotografada estando amarrada e dominada, o que ela queria fazer comigo era algo que para mim era desconfortável: dominação ao vivo, em cima de um palco, à frente de inúmeras pessoas! Fui logo ter com Andreia e interroguei-a sobre isso. A sua reacção foi olhar-me de soslaio, como se eu fosse burra.

 - Ah, vamos, Aninhas… sim, é verdade que eu tenho a Helena, que já a submeti e a treinei… apesar dela andar com vontade de se revoltar. Mas queres comparar a relação que eu tenho com ela com a que tenho contigo? Há quantos anos é que temos andado envolvidas uma com a outra, a explorarmos a nossa sexualidade, mesmo antes do Carlos aparecer na nossa vida? Conheço-te como ninguém e sei até onde posso ir contigo, da mesma forma que tu tens confiança total em mim e sabes até onde posso ir. Sabes que tenho razão…
Engoli em seco e assenti.
- Mas… Sabes que eu não gosto de me exibir, ser dominada à frente de uma multidão, nunca…
- Disparates. És fotografada e vista a ser penetrada e dominada por toda a Internet e estás agora armada em menina envergonhada? – e deu-me um toque brincalhão no braço – Vá ver, deixa-te disso. Vais ver que vais adorar.
- Mas… e o meu marido? E o Carlos?
- Não te preocupes com esse aspecto. Confia em mim, OK?
Suspirei e virei costas, sentindo um nervoso miudinho apoderar-se de mim.

Havia algum tempo que não íamos à mansão de Miss Silva, talvez desde que Carlos mandara fazer obras no subterrâneo da nossa casa e construir os nossos quartos de “brincadeira”; todavia nunca perdemos o contacto e fomos falando ao longo do tempo. Ela continuava com o seu espaço aberto a quem quisesse explorar o seu lado mais fetichista, organizando de vez em quando festas temáticas onde todos podiam ir, respeitando o dress-code estipulado para cada festa e tendo o mind-code de respeitar toda a gente. Infelizmente por questões de calendário estivemos bastante tempo sem ir a nenhuma – o que me causou alguma tristeza, pois eu até gostava de Miss Silva (não da maneira que possam pensar, atenção!) e do seu espaço. Naquele sábado à noite, todavia, o meu calendário estava vago, por isso foi possível comparecer àquela festa – o meu marido, infelizmente, tivera jogo em Coimbra nessa noite e não podia estar ali (o que me fez ficar um bocadinho magoada com Andreia, pois ela dissera para não me preocupar com isso).
Assim que entrámos na mansão e que a sua empregada a informou da nossa chegada, Miss Silva veio ter connosco, com um sorriso prazenteiro.
- Há quanto tempo, Katarina. – cumprimentou a minha irmã (chamando-a pelo seu nome de Domme) com dois beijos na cara, depois olhou para mim e acariciou-me o rosto – E há quanto tempo, Ana. Quem diria que a menina envergonhada que aqui entrou uma noite se transformaria numa modelo fetichista! E de bastante qualidade.
- Obrigado, Miss Silva. – respondi, sentindo-me corar.
A anfitriã vestia um vestido de látex encarnado que a cobria desde o pescoço aos pés mas que lhe deixava os braços livres, que por sua vez estavam cobertos por luvas do mesmo estilo, compridas. Nós já envergávamos as roupas com que iríamos aparecer em palco: eu tinha um vestido roxo e preto pelo joelho e com fivelas à frente, que deixava à mostra um pouco da minha barriga e, atrás, permitia que toda a gente visse as minhas nádegas. Apesar de ter pulseiras ao redor dos pulsos, elas estavam soltas – mas de qualquer forma eu tinha as mãos atrás das costas, em atitude de submissão. Não é preciso mencionar a coleira que tinha ao pescoço nem a trela cuja ponta Andreia segurava na sua mão enluvada. O seu corpo estava coberto por um catsuit de látex translúcido roxo (que a tapava por completo do pescoço para baixo), um boné na cabeça, o cabelo apanhado num carrapito e botas de salto alto que quase cobriam a perna na totalidade. A pièce de résistance estava à sua cintura: o “Bacamarte”, o strap-on de 20 cm com que Andreia adorava torturar-me e violar-me (e Helena também), e com o qual a minha irmã Ângela me havia castigado durante o meu tempo de “lepra”1. A minha cunhada estava ali também atrás de mim, com um vestido igual ao meu; a diferença estava no hood de látex que Helena estava a usar, que lhe cobria a cabeça onde o cabelo já voltava a nascer, apetrechado de uma “boca” entreaberta onde se via uma língua e uns dentes de borracha. Tal como eu, ela ia de coleira e trela, mas os seus pulsos estavam efectivamente algemados. E ela trazia um saco às costas, onde Andreia trazia os utensílios que pretendia utilizar em nós.
- E vejo que há um novo membro na vossa família. – continuou Miss Silva, fazendo um gesto com o queixo na direcção da hermafrodita.
- Efectivamente. Trata-se da minha esposa/escrava pessoal Helena. Ainda é algo arisca, mas já vai entendendo o seu lugar na relação. – e Andreia riu-se, sendo secundada por Miss Silva.
- Bom, espero que se divirtam na Minha festa. Quando ao vosso número, existem diversos palcos pela casa, como bem sabeis; acho que vós ficaríeis bem no da sala Atena.
- Obrigado, Miss Silva. Vamos já para lá.
A anfitriã sorriu e deu-nos passagem.

A mansão de Miss Silva tem diversas salas, cada uma dedicada a um deus grego – para além dos quartos privados. Na zona central de cada uma mas indo até uma das paredes da sala, havia um estrado ligeiramente mais elevado que o nível do chão onde quem quisesse podia fazer plays para quem estivesse ali. Quando chegámos à sala Atena, havia um grupo de pessoas usando o mais diverso tipo de indumentárias que observava o que se passava no palco, onde uma Dominadora se divertia (o termo é mesmo esse) a chicotear as costas de um submisso preso à cruz de Santo André com um látego que parecia extremamente pesado. Fomo-nos aproximando daquela zona e pude ver que o homem tinha tatuado, na zona da omoplata esquerda, um monograma de aspecto medieval onde sobressaía a letra ‘R’; e que as suas costas, rabo (onde se podia ver um plug enfiado no cu) e coxas estavam cobertas de tiras encarnadas, algumas delas a escorrer pingas de sangue. Ouvi a voz de Andreia no meu ouvido, com Helena a aproximar-se também:
- Quando ela descer do palco, que nenhuma de vós tenha a triste ideia de olhar para ela nem para o seu escravo: ela leva a etiqueta muito a sério e não me apetece andar às turras com uma sanguinária.
Ambas assentimos e ficámos a observar o espectáculo (se assim se pode chamar), com a Dominadora a largar o seu chicote e a aproximar-se do escravo, com uma faca nas mãos, com o bico da qual começou a riscar as costas torturadas dele, desenhando o mesmo monograma que tinha tatuado mas em ponto grande. Depois soltou-o da cruz, prendeu-lhe uma trela à coleira que tinha ao pescoço e saiu do palco, com o submisso a sair de gatas e a levantar-se apenas quando os seus pés nus tocaram no chão.
Os meus olhos baixaram imediatamente para o chão assim que ela se aproximou de nós, mas pude reparar ainda assim que era uma mulher alta e morena de cabelo em rabo-de-cavalo, que vestia uma camisa e calças brancas, luvas curtinhas e botas castanhas pelo meio da perna com esporas e o mesmo monograma estampado no alto do cano. A Dominadora parou à beira de Andreia.
- Frau von Rosenberg, há quanto tempo. – cumprimentou-a a minha irmã, sem grande ênfase.
- Helga, por favor… – riu-se ela – E de facto já há algum tempo que não te via por cá, Minha querida Katarina. Que tens feito, que te aconteceu? Nunca mais apareceste, nem aqui nem em lado nenhum…
- A nossa vida não tem dado para isso, Helga. Fui para Espanha, voltei, casei-me, tem sido uma lufa-lufa constante. Não quer dizer que tenha estado parada…
- Compreendo, compreendo e ainda bem que não tens parado. Casaste? Ena! Qual foi o cão que escolheste?
Não vi o que Andreia fez, mas Helena deu um passo em frente.
- Com a minha puta Helena. Era o passo lógico a dar, não havia mais ninguém que me pudesse dar o que ela me dá.
- Ah, mas é mulher ou cross?
- Mulher, obviamente. Nem pensar em ficar com um homem, mesmo que seja um que se veste…
Helga, ou Frau von Rosenberg, deu uma gargalhada.
- Por falar em homens, que é feito daquele que andava contigo para dominar a tua outra puta?
- Está fora mas daqui a bocadinho está cá.
- Esse é que devias de ver se submetias, para depois levares a tua irmandade toda à Minha herdade.
- Herdade? Quer dizer que já conseguiste realizar o Teu sonho? – Andreia pareceu admirada.
- Custou-me bastante, sim, mas a Herdade das Condessas já está em funcionamento. Um dia passa por lá e traz os teus submissos! E vê se o teu companheiro passa a ser bottom… – e Frau von Rosenberg soltou uma gargalhada. Andreia também se riu e ambas se separaram.
- É uma boa rapariga mas brutinha como tudo a bater. – comentou Andreia enquanto nos encaminhávamos para o palco – Na altura que eu estava mais metida no meio ela tinha uma horde de submissos e planos para um complexo para viver o BDSM 24/7, e aparentemente ela já o conseguiu. Enfim… despachemo-nos.
E parámos à beirinha do estrado.


1- ver "Dia de humilhação"

1 comentário:

  1. Fico à espera da 2º parte... Como sempre gostei muito. Beijinhos

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