segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Memórias da família Karabastos: Alyx Karabastos

Texto encontrado nas ruínas de uma casa situado na cidade de Glyfáda, nos subúrbios de Atenas, traduzido e adaptado à linguagem corrente.

Sou Alyx Karabastos. Não quero que a minha história se perca e seja esquecida. Quero que, mesmo que seja daqui a cem ou duzentos anos, mesmo que seja já depois de os vermes terem reduzido a minha carne e os meus ossos a pó, mesmo que que as minhas filhas já cá não estejam para saber o que aconteceu à sua mãe, todo o mundo saiba o que me aconteceu. Fui uma vítima dos otomanos, esses filhos de uma cadela sarnenta. Assassinaram o meu Mikhael, o homem mais amável e justo que alguma vez colocou pé no mundo, simplesmente por um desses tinhosos me desejar para ele e me querer violar diariamente.


Mikhael era originário de uma casinha na costa sudeste da ilha de Kythnos, e ia à capital da ilha (onde nasci e fui criada) vender peixe. Um dia, os nossos olhos cruzaram-se e apaixonámo-nos… Casámos no ano de 71271 e vivemos juntos durante treze gloriosos anos. Dei três filhas ao mundo: Agafya (de quem já estava grávida quando me casei), Annis e Alecta, tendo sido ajudada a criá-las não só pelos meus pais mas também pela minha irmã Alcyone. Eu e Mikhael demos uma infância cheia de amor às nossas filhas apesar das dificuldades e das privações que os turcos nos infligiam, dando-lhes todo o nosso carinho… ao mesmo tempo que eu as iniciava nos segredos da família Karabastos – principalmente a Annis, a encarregue pela Deusa de dar continuidade à nossa geração.
Mas a nossa vida estava condenada a ser de sofrimento. Um par de anos antes do meu casamento, a ilha fora tomada aos odiados venezianos pelos ainda mais odiados turcos, que começaram desde logo a colocar o seu calcanhar sobre o pescoço de todos os habitantes da ilha. Os piratas que povoavam o Egeu continuavam a atacar e a saquear a ilha impunemente (nada me diz que esses ataques não terão recebido o aval dos turcos) e nós fomos sendo cada vez mais taxados pela administração otomana, que todos os anos enviava um emissário para recolher os impostos. Em 71402, essa tarefa coube a Muharrem Hatun – e queira o grande Deus que nunca mais ninguém receba esse maldito nome. Esse infame homem com o seu séquito chegaram a Messaria, onde havia sido construída a capital depois da tomada pelos turcos, numa manhã de nevoeiro, quando eu saíra de casa para tratar das compras para casa. Maldita a hora em que o meu caminho se cruzou com o do verme Hatun e a sua corja de ladrões…
Dias depois da sua chegada, fui convocada ao palácio onde o emissário havia ficado alojado enquanto os restantes delegados tratavam da recepção dos impostos. O verme Hatun era um homenzinho baixo e de tez morena, cuja careca era mal-disfarçada pelo turbante que usava, tinha uns olhos verdes muito intensos e um nariz adunco – no geral, era uma pessoa com um aspecto que não inspirava confiança. Mal sabia eu…!

Mal entrei nos alojamentos do verme Hatun, senti dois pares de mãos agarrarem-me nos braços, sentindo cordas a serem-me atadas à volta dos pulsos e a puxarem-me os braços pela frente, ficando com eles cruzados enquanto atavam as cordas dos pulsos atrás das minhas costas. Logo a seguir, passaram-me uma rasteira e fizeram-me cair no chão, enquanto me amarravam os tornozelos também.
- Bem-vinda sejas, minha cara súbdita! – ouvi uma voz nasalada – Por Allah, consegues ser ainda mais bonita do que quando te vi pela primeira vez…
As mesmas mãos que me manietaram agarraram em mim e sentaram-me no chão, podendo eu finalmente ver o verme Hatun. Os seus olhos odiosos brilhavam de luxúria.
- Libertai-me e deixai-me ir, nobre senhor. – disse aquelas palavras tentando fingir sinceridade – Porque me prendestes?
O verme Hatun soltou uma gargalhadinha.
- Como te chamas, rapariga?
- Alyx.
- Bonito nome… quase tão bonito como tu. Por isso te tenho aqui, porque te quero para mim. Porque és bela e preciso de uma puta grega para me entreter.
Os meus dentes rangeram com o insulto. Ainda assim tentei controlar-me.
- Lamento, nobre senhor, mas não estou disponível para ser vossa concubina. O meu coração já tem dono e eu amo-o muito, desejo passar o resto da minha vida a seu lado.
- O teu marido? Mas tu sabes quem eu sou?! Quem é esse verme para se equiparar a um nobre como eu?
O verme deu um passo em frente e esbofeteou-me com dureza; senti o sangue aflorar-me pelos lábios feridos. Ainda assim olhei para ele desafiadoramente:
- Tendes razão, nobre senhor. Ambos são incomparáveis. Mikhael é o homem mais digno e bondoso e forte que Deus deu ao mundo, vós… vós sois uma pedra da sua bota em comparação. É como comparar uma bacia de ouro como um pote de estrume, como comparar…
O verme não me deixou continuar: ele começou a espancar-me, a esbofetear-me, comigo bem segura nas mãos dos seus comparsas. Quando se cansou, agarrou nas minhas roupas e começou a rasgá-las, bruscamente, até me deixar nua por completo.
- Tu hoje vais aprender uma lição e vais aprendê-la de maneira a que nunca mais a esqueças.
Encarei-o e cuspi-lhe na cara, uma escarreta algo ensanguentada, a qual recebeu como resposta mais uma forte bofetada, após a qual fui atirada ao chão sem contemplações. Senti um pé a apertar-me a cabeça e o som de roupas a serem despidas, interrompido pela voz da besta Hatum a vociferar algo para os seus capangas no seu dialecto diabólico. Quando o pé abandonou a minha cabeça, fui agarrada pelas suas mãos e atirada para cima de algo fofo – uma cama, ao que parecia. Fiquei debruçada em cima dela, de rabo espetado na direcção daquela canalha.
- Esta puta grega hoje vai aprender que aquilo que eu quero, eu obtenho!
O que se seguiu a seguir ainda me provoca lágrimas só de pensar. Sem qualquer aviso, sem qualquer palavra, ele atirou-se a mim como uma fera e senti a sua pila a entrar na minha pobre ratinha, enquanto os seus capangas me agarravam pelo pescoço e me impediam de mover. Assim que ele entrou em mim, soltei um berro como poucas vezes na vida soltara – ocasião em que alguém me meteu um pano na boca e me amordaçou. O verme Hatum agarrou-me com força nas ancas, quase enterrando as pontas dos dedos na minha carne, e esteve autenticamente a destruir-me a ratinha, o clitóris, tudo… ele enfiava a sua maldita verga dentro de mim com brutalidade, com voracidade, como se ele estivesse numa guerra a pelejar contra o inimigo, um inimigo manietado e imóvel que infelizmente não lhe podia dar luta. Cerrei os dentes e tentei ignorar a dor, tentei lutar contra as lágrimas que me começaram a surgir nos olhos, mas eventualmente tive de ceder e começar num pranto surdo.
- Quando eu acabar, estão à vontade para foderem esta puta grega! Ela tem cona para mim, para vocês e para todas as tropas do imperador! – e o verme riu-se, como se tivesse contado uma grande anedota. Os seus capangas também se riram, mais pela ordem do seu chefe do que da “piada” em si.
Depois de mais uns longos momentos de penetrações furiosas e veementes, o verme Hatun começou a praguejar e a gemer de prazer, vindo-se dentro de mim. Infelizmente a única coisa que eu sentia era dor. Aquele maldito havia-me magoado como nunca ninguém me magoara na minha vida. Assim que ele saiu de dentro de mim, senti um ligeiro alívio – a dor que sentia no baixo-ventre mascarava praticamente tudo. O pior, ainda assim, era o sentir-me violada por aquele merdas, aquele verme sebento… e rezei uma prece silenciosa a Deus para que me ajudasse e que pusesse fim ao meu martírio.
- Vamos, quem é o próximo a foder o lixo grego? – desafiou o verme Hatun, voltando a rir-se.
Um dos seus capangas acusou-se e saiu do lugar onde estava, sendo substituído pelo verme. Assim que senti a sua verga tocar-me na vulva ferida, soltei um gemido de dor e comecei a chorar.
- Ohhh, já viste, deixaste a pobre Alyx a chorar apenas com um toque… já que está assim, mais vale ir até ao fim com a puta! – e o verme Hatun soltou mais uma gargalhadinha, sendo secundado pelos seus capangas.
Tentei abstrair-me ao máximo quando o porco entrou na minha ratinha, mas os danos que o verme Hatun havia causado em mim eram demasiados, estavam ainda frescos, e pouco demorou para toda a minha resistência e fúria serem substituídos por dor e lágrimas e choro. Aquele maldito foi ainda mais voraz que o seu chefe, atacando-me e devorando-me com ainda mais força, até conseguir que eu começasse a berrar sempre que ele entrava por completo em mim. Sentia-me como se tivesse a minha vagina a ser golpeada por uma maça cheia de picos.
Misericordiosamente aquele animal não demorou muito a vir-se, voltando a conspurcar-me com os seus fluidos. Quando isso aconteceu, o verme Hatun soltou mais uma risada.
- Gostava de ver a cara do teu Mikhael se te pudesse ver agora. Nunca mais te quereria tocar aí em baixo!
Aquela frase fez-me gelar. Mikhael! Quando ele soubesse o que me tinha acontecido, ele ficaria devastado. E as minhas filhas? Como reagiriam elas ao facto de eu ter sido conspurcada por um turco imundo e pelos seus sequazes?
Imersa naquele pensamento, não dei pelos capangas se terem revezado. Voltei a mim apenas quando fui agarrada e virada na cama, com os tornozelos já soltos, ficando deitada de barriga para cima a encarar as três aventesmas; e sem me darem espaço para respirar, voltei a ser invadida pelo último nojento.
- Olha-me só para a carinha dela, Murat. – comentou o verme Hatun – Aqueles olhinhos lacrimejantes, aquele rosto doce… até dá vontade de os sujar!
E, dito aquilo, ele cuspiu-me na cara, sendo seguido pelo seu outro capanga, aparentemente chamado Murat. Ambos se divertiram a encherem-me a cara de saliva enquanto o outro merdoso ia rebentando com o que ainda restava da minha vulva. Eu já não fazia mais nada senão chorar e berrar, as dores que eles me estavam a causar eram inenarráveis.
O verme Hatun e o ignóbil Murat ajoelharam-se na cama, ficando aquele maldito emissário à minha frente comigo entre as suas pernas e o seu capanga atrás de mim.
- Ainda gostava de ver se a tua boca é tão boa como a tua cona. Murat, e que tal se me ajudasses?
- Às suas ordens, Excelência.
Senti as suas mãos a retirarem-me a mordaça bruscamente; quando eu já começava a pensar no que podia fazer a partir do momento que tivesse a boca livre, esta foi invadida pelas mãos da besta Murat, que me forçou a ficar de boca aberta. O verme Hatun soltou mais uma das suas risadinhas ignóbeis e enfiou a sua verga na minha boca. Deus, mil anos que viva, nunca mais esquecerei o sabor horrível daquela pila, mais pequena e disforme que a do meu Mikhael mas cujo dono ma enfiava de forma animalesca. Com a língua eu tentava expulsá-la de dentro de mim mas sem qualquer resultado: os dois monstros estavam a segurar-me demasiado bem. Indiferente a tudo isto, o terceiro monstro continuou a penetrar-me, a violar-me, até se vir dentro de mim, tal como os outros. Voltei a rezar a Deus para que eu não viesse a dar ao mundo mais uma criança como resultado daquela maldita tarde…
Subitamente, o verme Hatun voltou a gemer e a minha boca encheu-se de uma mistela espapaçada e pastosa. Tentei cuspi-la, expulsá-la da minha boca, mas sem êxito: fui obrigada a engolir parte, antes de aquela verga me abandonar misericordiosamente a boca… e ficar a despejar aquele sémen maldito na minha cara. Tudo isto enquanto as cuspidelas recomeçavam.
- O lindo aspecto de uma puta grega, meus caros. Violada, escarrada e esporrada. Lindo! – aplaudiu o verme Hatun, com os seus capangas a rirem-se.
Fui atirada para o chão sem cerimónia e os meus pés voltaram a ser amarrados. O verme Hatun ajoelhou-se perto de mim e murmurou:
- És uma boa foda, Alyx. Vou levar-te comigo para Istanbul e vais-te casar comigo. Vamos divertirmo-nos à grande, tu e eu. Vamos ter rambóia todas as noites, quero montar-te todas as noites, rebentar-te toda…
- Quando o meu Mikhael souber do que me fizeste… até vou ter pena de ti. Vais morrer com as entranhas espalhadas pelo deserto. – rosnei.
Uma mão puxou-me o cabelo e fez-me levantar a cabeça, para depois me encostarem um copo à boca e forçarem a beber o seu conteúdo.
- Não te preocupes com o teu adorado esposo. Dentro em breve, ele não passará de uma memória. Era o que faltava se eu, Muharrem Hatun, não tivesse poderes para me ver livre de quem pode ser uma ameaça à minha vida! Entretanto, bebe isto. Não tenho vontade de ter filhos contigo, a ideia de ver mestiços gregos a chamarem-me pai enoja-me. Por isso existe um ligeiro preparado que faz com que as mulheres que o bebam nunca mais possam ter filhos. Bebe, Alyx, engole e faz-me a vontade.
Assim que ele acabou de falar, cuspi o líquido que tinha na boca. Mas já era tarde, já havia engolido um bocado. O verme Hatun voltou a rir-se com a minha tentativa falhada e voltou a amordaçar-me, deixando-me cair no chão. Ele voltou a vestir-se, sendo seguido dos seus dois compinchas, e saíram daquela divisão, deixando-me sozinha. E foi naquele momento que caí na minha situação e comecei a chorar e a berrar como nunca.

Tive a esperança de que o verme Hatun fosse só bazófia e que, depois daquilo tudo, me deixasse regressar a casa sob ameaça de nunca revelar o que se passara. Todavia, nada disso aconteceu. Em vez disso, apareceu um grupo de servas, que me levaram para uma outra zona e onde elas estiveram a dar-me banho delicadamente – sem contudo me libertarem. Durante um largo tempo elas passaram esponjas embebidas em água e produtos de limpeza para me deixarem limpa e cheirosa. Infelizmente elas não podiam fazer o mesmo ao meu interior… Depois vestiram-me umas roupas largas da cabeça aos pés, quase como se me envolvessem num lençol com direito a véu e tudo, e onde apenas os meus olhos ficavam a descoberto. A corda que amarrava os meus tornozelos foi substituída por uma correia, mais larga, que me permitia andar mas não me deixava dar grandes passadas nem correr. Depois fui levada para uns aposentos que, aparentemente, haviam sido preparados para mim. Deixaram-me lá sozinha e trancaram a porta.
Passei uma noite em claro, deitada em posição fetal em cima da cama. Não porque tivesse frio, mas porque estava aterrorizada com a minha vida futura. O verme Hatun demonstrara durante a tarde ser odioso o suficiente para querer levar a cabo todas as suas ameaças; se assim fosse, eu tinha dúvidas que alguma vez pudesse voltar a ver a minha família. Não por poucas vezes deixei que as lágrimas me corressem pela cara abaixo.
Na manhã seguinte, as servas regressaram, trazendo bandejas com comida para mim e anunciando que o “meu Senhor” depois me queria ver. Neguei-me a comer e elas voltaram logo a colocar-me o lenço na boca (que me havia sido retirado para eu poder comer), deixando-me novamente sozinha. Pouco depois, efectivamente, o verme Hatun apareceu.
- Bons dias, minha querida Alyx! Espero que tenhas dormido bem.
Limitei-me a olhar para ele, sentindo o ódio que tinha por aquele homem nojento a aumentar.
- Vem comigo. Quero mostrar-te uma coisa.
Ele agarrou-me no braço e fez força para eu o seguir, mas eu fiz finca-pé e acabei por ficar quieta. Ele acabou por ter de chamar dois dos seus capangas para me arrastarem atrás dele.
Pensei que ele me fosse sujeitar a mais uma violação, por isso admirei-me quando parámos à frente de uma janela que dava para a praça maior de Messaria. Havia o movimento habitual de um dia de semana; todavia, a minha atenção foi atraída para um grupo de sete ou oito soldados que arrastavam um homem acorrentado na direcção do edifício onde nos encontrávamos. Havia algo naquela pessoa que me parecia estranhamente familiar… Quando me foi possível descortinar as duas feições, o meu coração saltou um batimento: tratava-se de Mikhael! Olhei para o verme Hatun e ele deve ter visto a confusão nos meus olhos, pois soltou uma das suas odiosas risadinhas:
- Apanhámos aquele contrabandista a tentar entrar na ilha com víveres roubados. Não podemos tolerar a presença de piratas nesta ilha, afinal de contas eles arruínam-nos a economia. Sinceramente apetece-me fazer dele um exemplo para a restante ilha, enforcá-lo e deixar o seu corpo pendurado nos limites da cidade. Mas disseram-me que tu o conheces… e pelos teus olhos vejo que é verdade. Não me digas que aquele é o tal Mikhael que não se compara comigo…
Continuei imóvel, não acreditando no que estava a acontecer. Vendo melhor o rosto do meu amado, pude ver que ele tinha um olho inchado e diversas equimoses no rosto. Eles haviam-se assanhado com ele…
- Deduzo pela tua falta de reacção que assim é… Muito bem. Quero mostrar-te que tenho bom coração, minha querida Alyx. Por isso, vamos fazer um acordo. Se renunciares ao teu casamento com ele e te casares antes comigo, deixá-lo-ei viver. Caso contrário… – e ele apertou o pescoço com a mão, simulando um enforcamento.
Senti um arrepio gelado correr-me pela espinha abaixo. O que o verme Harun estava a dizer-me era que eu nunca mais iria voltar a ver a minha família! E que, se eu não aceitasse a sua proposta, ele mandaria assassinar o meu marido… Senti-me presa entre a espada e a parede. Não queria deixar de estar casada com Mikhael, mas as minhas filhotas precisavam do seu pai com elas…
- Que dizes? Aceitas o meu acordo?
Fiquei quieta durante algum tempo. Depois, acabei por me decidir. Com lágrimas nos olhos, assenti: era incapaz de condenar à morte o homem da minha vida… O verme Hatun ficou radiante.
- Óptimo! Amanhã vamos para Istambul e começarei a tratar do nosso matrimónio. Creio que um donativo ao Patriarca de Constantinopla será suficiente para o teu divórcio não ter entraves e, depois disso, casaremos. Vais ver, o que se passou ontem vai parecer uma distante memória.
E deu-me um beijo na face encoberta pelo tecido do véu.

O seguinte texto foi acrescentado ao pergaminho. Foi escrito com letra mais imperceptível.

Já o devia esperar. O verme mentiu-me: Mikhael foi enforcado no dia seguinte ao meu rapto, como um reles ladrão, mas disse-me que fora libertado e que partira para longe. E  casámos, pois casámos – mas ele nunca foi meu marido: tem sido, isso sim, meu torturador, meu proxeneta. Desde o primeiro dia do nosso matrimónio que ele se diverte a violar-me e a “emprestar-me” aos seus amigos para que eles o façam. Sempre que estou nas mãos dele, tento apoiar-me na memória das minhas filhas, mas ultimamente isso tem sido difícil. Já não sinto nada quando sou repetidamente penetrada pelo verme Hatun ou pelos seus ignóbeis compinchas. Mas um dia eu vingar-me-ei – ou não me chame eu Alyx Karabastos.

Alyx Karabastos conseguiu efectivamente vingar-se, assassinando Muharrem Hatun à punhalada e fugindo clandestinamente de Istanbul. Passou o resto da vida à procura das filhas; morreu em 1666 sem nunca o ter conseguido. Até final dos seus dias, Alyx nunca mais se entregou a outro homem.


1- Alyx alude ao calendário bizantino, em vigor na religião Ortodoxa até ao século XVIII; o ano em questão corresponde, no calendário gregoriano, a 1619.
2- Ano de 1632.

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