sábado, 31 de outubro de 2015

O renascimento

(história anterior)

Desde a visita nocturna ao cemitério e aquele momento aterrador dentro do mausoléu, a vida de Rui transfigurou-se. O rapaz tornou-se mais nervoso, mais agitado e mais introvertido, começando a sair menos vezes de casa, não só por falta de vontade de sair mas também por começar a sentir alguma fotossensibilidade. Tornou-se também uma pessoa mais doente pois, por mais que dormisse e comesse, de manhã sentia-se sempre fraco.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

A intrusa

(história anterior)

Assim que entrei no túnel e fiquei fora da visão de toda a gente, dei uma palmada na minha testa e deixei a palma da minha mão descer-me pela cara abaixo (a célebre facepalm). As coisas não estavam a correr bem naquele dia com o treino. Talvez tivesse sido os reflexos do empate do Desportivo na jornada anterior, mas senti que as coisas andavam tensas entre nós todos, entre equipa técnica, jogadores e direcção. Talvez eu tivesse tido algumas culpas no cartório no que aquele mal-estar dizia respeito; só que, quando o campeonato já começou e a direcção do clube decide vender dois dos titulares da equipa e me obrigam a – não há melhor forma de o dizer – desenmerdar-me de qualquer maneira, é um bocado normal que eu acabe por explodir e mandar vir com os responsáveis pela situação. E como os jogadores e restante equipa técnica também não são parvos e percebem quando há energias negativas no ar…

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Enfermeira Isabel

(história anterior)

- Aaaaatchissssssssss!!!
- Santinho! – disse, entregando-Lhe mais um lenço.
Ele assoou-Se, entregando-me de volta o quadrado de papel ensopado em ranho. Depois, com um gemido, deixou-Se cair novamente na cama.
Estávamos na Primavera, época das alergias, e Ele havia sido atacado pelo pólen das árvores que rodeavam a nossa casa. Para agravar ainda mais a situação, nós havíamos feito uma sessão de bondage ao ar livre, com Ele a amarrar-me ao tronco de uma árvore e a fazer-me tudo o que quis – e, enquanto eu estive sempre debaixo de sombra, Ele fartou-Se de andar de cabeça ao Sol. Depois de três ou quatro dias constantemente a espirrar, as crises alérgicas e o Sol na cabeça degeneraram numa constipação severa, de tal forma que Ele havia tido de meter baixa e meter-Se na cama. E, como seria de esperar, eu estava a tentar ajudá-l’O a recuperar. Levava-Lhe as refeições à cama, trazia-Lhe os seus medicamentos às horas previstas e fazia-Lhe companhia durante o resto do tempo, não O querendo deixar sozinho ou sem vigilância – não porque a constipação pudesse degenerar em algo mais sério, mas porque odiava vê-l’O assim tão debilitado…

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Orgia de núpcias

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Tal como eu vos disse, o meu casamento com Andreia foi algo normalíssimo – ou melhor, tão normal como o casamento de duas raparigas apaixonadas. Não aconteceu assim grande coisa digna de registo durante a cerimónia, nem durante o almoço de celebração, que se prolongou pela tarde fora. Todavia, houve muitas coisas interessantes a acontecer depois disso, muitas daquelas que vocês gostam de ler…

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Sobre os joelhos de Mamã

(história anterior)

O tempo na rua estava pavoroso. Em todo o lado só se falava no temporal que ia ocorrer naquele dia e no seguinte (apesar de, no fim-de-semana a seguir, já se falar em calor e Sol com fartura). Com tal prognóstico, acabei por abdicar de qualquer ideia de sair e fiquei em casa, olhando pela janela para a chuva que batia com força contra o vidro da janela. O Papá tinha tido de enfrentar a borrasca e ido para o tribunal trabalhar, enquanto a Mamã estava no escritório a trabalhar em processos judiciais de um caso que ela teria de apresentar nos dias seguintes. Como ela não gosta de ser interrompida quando se mete com as leis, deixei Mamã em paz e fiquei no meu quarto, de pijama – o que, no meu caso, é a tanga com que eu costumo dormir na cama junto com os meus Papás.