segunda-feira, 9 de novembro de 2015

O espectador

(história anterior)

- Raios partam a puta da minha vida! – gritei, assim que olhei em redor.
De facto, era caso para ficar a barafustar e a amaldiçoar o Universo. Aparentemente, uma pessoa já não podia deitar-se a dormir uma sesta no sofá após o almoço sem acordar completamente nu, trancado na cela situada na cave da nossa casa e com os genitais enfiados dentro dum cinto de castidade e presos a corrente e cadeado à parede. Não queria acreditar que, depois da passagem de ano tumultuosa que a irmandade Karabastos me havia proporcionado, elas estavam com vontade de a repetir… é a desvantagem de nos casarmos com um membro de uma família de debochadas.

 
Não tive de esperar muito até aparecer gente ali. Com um baque, a porta que dava acesso à divisão onde me encontrava abriu-se, com duas mulheres a passarem por ela. A primeira reconheci-a logo: era Ana. Trazia um corpete preto sobre o peito (mas aberto de forma a ver-se o decote), uma tanga transparente escura vestida por cima do cinto de ligas, meias de nylon e botas pretas de salto alto pelo meio da perna. Tinha uma gargantilha preta com incrustações metálicas à volta do pescoço. Atrás dela vinha uma loira de longos cabelos encaracolados e soutien preto e branco que revelava mais do que tapava, uma mini-saia de látex também preta e branca, uma espécie de cinta de ligas do mesmo género, meias e botas de salto alto, semelhantes às da minha mulher mas mais brilhantes (de vinil, talvez) e um strap-on preso ao baixo-ventre. À primeira vista pensei que fosse a minha cunhada Amélia, mas quando ela se deteve à minha frente a menos de um metro, pude ver que estava redondamente enganado.
- Olá, Carlos. – cumprimentou-me ela em inglês, com um sorriso sádico.
- Olá, Lucy. – respondi secamente – Há muito tempo que não te via…
Tratava-se efectivamente de Lucy, a amante inglesa da minha mulher. Havia muito tempo que ela não aprontava uma das suas, mas calculava que não demorasse muito a saber dela. E, de facto…
- Demasiado, querido. Mas está na altura de te pedir emprestada a esposa durante umas horinhas. E a ti também.
Levantei-me de um salto (o melhor que pude só com um pé) e coxeei até me aproximar dela o máximo que a corrente que me prendia os genitais me permitiu, olhando para Lucy com cara de poucos amigos.
- Que pensas tu que vais fazer?
- Oh, tanta coisa… – ela estalou os dedos e apontou para mim, e Ana logo aproximou-se de mim de passo decidido.
A minha esposa abraçou-me e, sem dizer uma palavra, beijou-me apaixonadamente, enrolando a sua língua na minha. Acabei por lhe responder, imitando-a – e comecei a sentir uma dor nos meus genitais à medida que estes se iam entesando e ficando apertados dentro da sua jaula.
- Que me querem fazer? Que me vais fazer? – interroguei-a em português, assim que as nossas bocas se separaram.
- Tudo o que Lucy quiser, meu amor. Inclusivamente abusar de ti, se essa for a sua vontade…
- Abusar… Ana Isabel, estás a vingar-te de mim por causa da cena do cinto de castidade, não estás?
Ela abanou a cabeça.
- Nada disso, minha vida… apenas estou a obedecer a Lucy. Ela quer ensinar-te a dares prazer a outros… a mulheres e a homens.
- Homens?! – berrei.
Lucy, que entretanto se aproximara de nós, agarrou-me com força na cara, colocando a sua mão por cima da minha boca.
- Não te atrevas a gritar com ela, deficiente. – recriminou-me ela; enquanto falava, ela ia-me fazendo recuar até ficar com as costas encostadas à parede – Podes ser o Alfa da relação mas isso não faz de ti dono e senhor da minha gatinha… e hoje vais aprendê-lo. – depois, virou-se para Ana – Vai buscar a parafernália.
Vi Ana a afastar-se de mim e a começar a remexer em sacos nos quais eu ainda não tinha reparado, retornando com um novelo de cordas e uma ballgag preta. Enquanto Lucy me fazia ajoelhar no chão e me prendia os braços atrás das costas, a minha esposa começou a amarrar-me os pulsos, passando de seguida para os cotovelos e acabando nos tornozelos. Acabei por não me debater muito, uma vez que queria ver o que estavam aquelas duas a preparar. Depois, Ana colocou-me a mordaça ao pescoço, quase como um colar.
- É que sabes, querido, eu e Ana fizemos uma aposta. – Lucy continuou a falar, enquanto eu vi aparecer nas suas mãos algo que parecia um tubo de baton e que depois se confirmou que o era – Eu apostei com ela que, se eu te metesse uma pila na boca, tu te irias excitar e encher o CB-6000 que te colocámos. A tua adorada acha que tu não vais sentir coisíssima nenhuma. E, obviamente… quem vencer tem o direito de fazer à outra o que quiser. E a ti, claro.
Enquanto falava, ela ajoelhou-se à minha beira, com aquele dildo espetado na minha direcção, a centímetros da minha cara, bem maior que o meu órgão mesmo quando totalmente erecto… e eu acho que tenho uma “ferramenta” boa o suficiente para dar prazer a Ana! A minha mente ficou presa nessa comparação de “pilas” e nem reagi quando Lucy me começou a pintar os lábios com o baton encarnado – quando o fiz, já era tarde demais.
- Lindo! – riu-se a inglesa – Agora sabes para que serve o baton, não sabes?
Abanei a cabeça, negativamente.
- Então vais saber.
A mão de Lucy apertou-me o maxilar, quase como se me estivesse a forçar a abrir a boca; quando o fiz, ela invadiu-me a boca com o seu dildo. Ana ajoelhou-se a meu lado, colocou-me um braço por cima dos ombros enquanto, com a outra mão, ela apalpava-me os testículos. Gemi e tentei protestar com ela, mas Lucy estava a ser demasiado voraz, autenticamente violando-me a boca e impedindo-me de conseguir articular fosse o que fosse.
- OK, vamos ver outra coisa. – declarou Lucy; logo a seguir, ela abrandou os seus movimentos e deixou o seu strap-on ficar quieto na minha boca. Ela agarrou-me na cabeça e começou a empurrar aquele falo, lentamente, fazendo questão de me tentar enfiar o máximo daquilo dentro da boca. Comecei a debater-me com falta de ar, engasgando-me assim que a ponta do dildo me começou a obstruir a garganta, ao mesmo tempo que ia sentindo uma dor na minha pila, sentindo-se apertada dentro da sua prisão. Com uma gargalhada, ela tirou o dildo de súbito e ficou a olhar para ele.
- Vês? – e apontou com uma unha encarnada para a marca que os meus lábios pintados haviam deixado na sua pila artificial – Até nem tens uma garganta muito má, dá para enfiar mais de metade da minha pila até te começares a engasgar… já tive homens a fazerem-me broches que não chegavam nem a meio. Por isso tenho de te parabenizar, Carlinhos. – depois olhou para a minha esposa – E então, gatinha? Que dizes?
Ela pareceu olhar para a inglesa com cara triste, para depois se afastar e deixar que Lucy visse o meu órgão algo rijo através do plástico transparente do cinto de castidade – mas mais por causa da mão de Ana que do dildo da companheira.
- Eu bem te disse, amor! – riu-se Lucy – Eu disse-te que eles adoram! Podem fazer-se todos machões mas, no fundo, ficam de pau feito se lhes dermos um a chupar… e tu já sabes o que significa isto.
- Sim, sei… – Ana pareceu amuar enquanto baixava a sua tanga, deixando-a cair no chão, e nos mostrava a sua zona púbica de pêlos aparadinhos em forma triangular. Depois a sua mão agarrou o strap-on de Lucy, parecendo avaliá-lo – Querido, esta pila é maior que a tua…
- E aguenta-se direita eternamente, ao contrário da dele. – acrescentou Lucy, com uma gargalhada.
- O que querem vocês, caralho?! – rugi, já farto daquela ladainha. Afinal de contas era a primeira vez que ouvia a minha esposa queixar-se do meu “material”…
Lucy continuou a rir-se, enquanto Ana veio ter à minha beira novamente, agarrou na mordaça que eu tinha pendurada ao pescoço e colocou-ma na boca, apertando-ma à voltas da cabeça; depois, agachou-se à frente da amante, abriu a boca e começou a chupar aquele dildo. Ela tinha as pernas entreabertas na minha direcção, parecendo provocar-me com a visão da sua vulva rosadinha… O facto de a minha mulher estar a chupar uma pila – mesmo artificial – deixava-me sempre excitado, o que fez aumentar ainda mais a dor que sentia na minha pila. Pude ver o olhar de Ana fixo em mim, como se me estivesse a provocar, a dizer “gostavas que o caralho que estou a chupar fosse o teu, não gostavas?”. Lucy olhava para ela embevecida, adorando a forma como a sua adorada parecia devorar aquele falso pénis, enquanto baixava o soutien e começava a brincar com os seus mamilos.
Então Lucy retirou o strap-on da boca de Ana e agachou-se, ficando encostada à minha esposa. Elas ficaram viradas para mim, deram o braço e beijaram-se novamente, com uma das mãos de Lucy a agarrar no falo como se estivesse vivo e o quisesse excitar. Ao ver ambas as raparigas aos beijos, a dor que envolvia os meus genitais aumentou e eu acabei por começar a gemer, o que fez ambas olharem para mim com um sorriso. Quando o beijo terminou, Ana sussurrou docemente:
- Quero-te, minha tigresa… fode-me… por favor… à frente dele…
Lucy olhou para mim.
- Ouviste-a… ela quer que eu a monte. Bom, menina Ana, os seus desejos são ordens! – ela ergueu-se e ajudou Ana a fazer o mesmo. Depois, a inglesa fez Ana virar-se de costas para ela e colocou-lhe o dildo entre as coxas, enquanto a minha esposa baixava o corpete e descobria os seus seios. Lucy começou a mexer-se como se estivesse a fazer amor com a sua parceira, com o strap-on bem seguro entre as suas coxas, enquanto esta começava a mexer nos seios, passando as suas longas unhas envernizadas pela pele sensível dos seus mamilos. Ana começou a abrir as pernas e Lucy aproveitou logo para enfiar o seu falo na ratinha da minha mulher, arrancando-lhe um enorme gemido de prazer. À medida que ia penetrando Ana, Lucy olhou para mim com um ar de gozo.
- Aprende, rapazinho… é assim que se dá prazer a uma mulher. Vocês homens deviam rezar para nós nunca conseguirmos ter pilas funcionais, senão… vocês deixam de nos servir para nada.
Ana havia fechado os olhos e continuava a ser penetrada por trás enquanto acariciava os seus seios, aparentemente abstraída à retórica da amante. Não foi preciso muito para começar a ouvi-la gemer de prazer, sinal de que havia atingido o orgasmo. Tive de fechar os olhos e deixar de olhar para elas, pois a dor das minhas partes baixas havia-se tornado excruciante…
Quando os voltei a abrir, Ana e Lucy haviam-se agachado novamente à minha beira. Ana retirou-me a mordaça, deixando-ma como dantes à roda do pescoço. Olhei para Lucy cheio de rancor, o que provocou mais uma gargalhada à loira inglesa.
- Tens razão, querido, desculpa ter-te deixado aí abandonado… já te vou dar que fazer.
Com ajuda da minha esposa, Lucy tratou de me deitar no chão, de barriga para cima. Então a inglesa ajoelhou-se colocando-me entre as suas pernas, praticamente sentando-se na minha cara… e eu pude ver que o strap-on estava metido numas cuecas que tinham uma abertura na zona da vulva. Ouvi os passos de Ana pelo chão e pressenti-a a colocar-se numa posição semelhante, virando-se de rabo para Lucy.
- Agora, fofinho, só quero sentir a tua língua na minha cona. Enquanto estás entretido, vou comer a tua mulher aqui mesmo… e ver se ela não quer apertar-te ainda mais a tua pilinha.
- E qual a minha motivação para te dar prazer? – inquiri-a, sufocado.
- E que tal… porque eu quero?
- Não pega comigo.
Ouvi Lucy a rir-se, quando Ana soltou um gemido. Obviamente a inglesa havia entrado nela por trás… ou feito com que a minha esposa recuasse o suficiente até o dildo entrar nela, visto a loira não se ter afastado da minha cara.
- Vá lá, não queres entrar na cena? Estamos todos envolvidos em rituais sexuais, estou a dar o máximo para dar prazer à tua mulher, o mínimo que podias fazer era agradecer-me por estar a cuidar tão bem dela…
Sorri sem alegria… todavia, acabei por deitar a língua de fora e começar a lamber os lábios vaginais de Lucy.
- Ohhhh…
Eu também comecei a gemer, mas de dor: senti umas unhas a arranharem-me as coxas, ao mesmo tempo que uma mão me apertava com força os testículos – que, somando ao meu órgão apertado na prisão de plástico, me fazia sentir horrível. Todavia, acabei por continuar a lamber a ratinha de Lucy, ouvindo a sinfonia de gemidos e suspiros que ela e a minha esposa estavam a fazer. Comecei a sentir humidade na minha boca, mas deixei-me estar a friccionar e a penetrar aquela ratinha com a língua até os gemidos da inglesa se transformarem em gritos altos. E, quando ela se silenciou, foi a vez de Ana também começar a gritar de prazer.
- Hmm… Realmente não és tão mau a lamber como eu pensava. Se não fosses uma figura pública, raptava-te e levava-te comigo para Inglaterra para seres o nosso submisso, meu e de Ana. E das nossas amigas…
- Esquece... Não dou para isso. – comentei, um pouco sufocado.
- Disparates. Todos os homens o são, basta acenarmos com as nossas ratas e vocês fazem tudo o que quisermos. Ou, então, no teu caso, basta prometer dar-te a chave do teu CB-6000 para me obedeceres inquestionavelmente. Por falar nisso…
Enquanto esperava que Lucy acabasse aquela pseudo-teoria, esta e Ana levantaram-se, ficando ambas a olhar-me com ar superior – apesar de nos olhos da minha esposa se notar uma espécie de pena, ou foi o que me pareceu ver… antes dela se meter por cima de mim, comigo entre as suas pernas abertas, para depois se deitar sobre o meu corpo, com a sua boca a ficar a milímetros da minha e a sua vulva encostadinha ao meu órgão enclausurado.
- Ana, eu… Preciso que me ajudes, gaita, não quero ficar assim toda a vida! – suspirei.
- Eu sei, amor, desculpa-me… Quis tanto matar as saudades que tinha de Lucy e envolver-te connosco que… Ahhhhhh!
O seu rosto doce contorceu-se numa careta de dor; desviei a cabeça e pude ver que Lucy se havia ajoelhado atrás de Ana e que estava a penetrar o seu posterior.
- Nem penses que vou deixar o teu cu intacto, minha gatinha meiga e doce… – comentou Lucy sedutoramente.
Ana fechou os olhos e recomeçou a gemer, movendo-se para a frente e para trás, roçando com a sua ratinha no meu órgão e fazendo-me ganhar mais uma erecção, o que me causou novamente mais dor… Pude ver que Lucy estava para acabar com Ana, não tendo piedade dela e autenticamente devorando o cu da minha esposa. As mãos de Ana agarraram-me gentilmente na cabeça e acabámos por nos beijar mais uma vez, com o nosso beijo a prolongar-se indefinidamente. E nem o orgasmo que a dominou pouco depois e que lhe causou gemidos ainda mais sonoros fez com que os nossos lábios se separassem.

Ambas as raparigas se levantaram quando o clímax de Ana desapareceu e ficaram a olhar para mim novamente. Enquanto os olhos de Lucy reflectiam satisfação, algum gozo e superioridade, nos de Ana, tal como anteriormente, parecia poder ver-se alguma tristeza...
- Bom, fofinho, é aqui que nos separamos. – declarou Lucy – Não estás autorizado a acompanhar-nos para a segunda parte da nossa noite, é só para mulheres.
- Vais-me deixar aqui, não vais? – rosnei.
- Claro. E exactamente como estás. Ou… – Lucy estalou os dedos e apontou para a minha boca, com Ana a agachar-se à minha beira e a agarrar na mordaça que tinha ao pescoço.
- Ana, não faças isto… – comecei.
- Desculpa-me, amor da minha vida. – comentou ela enquanto me colocava a bola de borracha na boca – Estou completamente à mercê dela, dos seus caprichos... Não consigo pensar em mais nada senão em ser devorada por ela... Perdoa-me. – parecia querer começar a chorar.
Franzi o cenho: sabia que Ana tinha uma ligação bastante esquisita com o sexo e o prazer, mas aquilo talvez fosse um exagero… Ela beijou-me na boca após me amordaçar e levantou-se, dando a mão a Lucy.
- Vês? – declarou a inglesa – Entre um homem e uma mulher, nós preferiremos sempre uma mulher… e agora é que a diversão vai começar a sério. Boa noite, querido.
Ambas as raparigas deram um beijo e, ignorando os meus protestos, dirigiram-se para a porta e saíram, deixando-me novamente só… e a pensar na vida.

(história seguinte)

1 comentário:

  1. Mais um conto que gostei muito de ler, e pelas ideias que me deu.
    Um dia....

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