segunda-feira, 23 de novembro de 2015

A dívida

Acordei com uma sensação estranha e a cabeça pesada, como se tivesse ido para os copos na noite anterior. De facto, como me sentia farto de estar em casa, peguei no carro e fui até a um bar, passar o tempo e beber uma cervejinha ou duas. Pelo menos, era essa a ideia que eu tinha… só me recordava de estar sentado ao balcão, com um copo de imperial à frente, a ver as vistas, a “olhar para ontem”, nem me meter com ninguém. Depois disso… a minha memória era um buraco turvo e omisso. Nem sabia como raio havia chegado a casa.


Quer dizer… olhando à volta, aquele não me parecia o meu quarto – nem tão pouco a minha casa! Parecia estar no quarto de uma mulher, ou parecido: uma cama de dossel, roupeiros e mais roupeiros, tudo coberto com uma tinta cor-de-rosa… nunca tinha visto tal quarto antes. Afinal de contas, como diabo tinha eu ido parar até ali? Que raio de sítio era aquele? E, mais importante ainda, porque raio sentia eu um ardor pelo meu corpo todo em geral?!
Cocei a cabeça, e imediatamente notei numa ou duas coisas que não estavam bem: o meu cabelo estava longo, mais longo que o que eu costumava ter, e era loiro. Para além disso, tinha um par de pulseiras de cabedal, justas e presas com cadeado, em redor dos pulsos. Olhei para o meu corpo, e vi-me a envergar uma farda parecida à da Alice no País das Maravilhas, azul-celeste e branco; sentia o meu peito e barriga comprimidos, e parecia que tinha algo parecido com seios – toquei-lhes e senti algo esponjoso. As minhas pernas estavam cobertas por meias de nylon brancas, com mais tiras de cabedal, semelhantes às dos pulsos, em volta dos meus tornozelos – e presas a cadeado, também – e, nos pés, um par de sapatos de salto alto pretos. Olhando com mais atenção para as minhas pernas, percebi o porquê do ardor nas pernas e peito: os meus pelos haviam desaparecido por completo! Em pânico, levantei a saia do meu uniforme e vi que a ausência de pelos se havia alastrado à zona púbica – e fiquei ainda mais alarmado ao ver o meu pénis preso dentro de uma peça de plástico, fechada com mais um cadeado. O que raio significava tudo aquilo?
Saí da cama e encaminhei-me para um espelho, tentando equilibrar-me do cimo daqueles saltos altos. Quando me vi, comecei a sentir suores frios e algo às voltas no meu estômago. A minha barba de três dias havia desaparecido; a minha cara estava maquilhada e apresentava um tom um pouco mais pálido que o costume; os meus lábios estavam pintados dum vermelho algo escuro. As minhas pálpebras apresentavam um tom escurecido, com as pestanas a serem alongadas e pintadas de preto. E, ao meu pescoço, estava uma coleira de cabedal, com uma argola à frente e um cadeado na parte de trás. Engoli em seco. Teria alguma ligação com a minha falta de memória da noite anterior?
Levantei-me em pânico e andei até à porta que estava do outro lado do quarto – ou tentei. Os saltos dos sapatos que tinha nos pés eram altíssimos, e vi-me e desejei-me para me conseguir equilibrar em cima deles. Ainda assim, lá consegui chegar à porta. A minha mão enluvada agarrou o manípulo e rodou… mas a porta não se abriu. Estava fechado ali dentro.
- Hey! – gritei, batendo na porta – Hey!! Está aí alguém?!
Pareceu-me ouvir passos do outro lado e uma chave a ser enfiada na fechadura; porém, antes da porta se abrir, senti uma descarga eléctrica à volta do pescoço. Entontecido, caí no chão, agarrado à coleira que tinha à volta do pescoço, enquanto a porta se abria, finalmente.
- Sim, senhora… linha menina, no chão, onde deves estar!
A descarga parou de imediato, e lá consegui abrir os olhos, firmemente fechados depois dos primeiros instantes daquela descarga. Vi umas botas pretas, de cano alto, pelos joelhos, umas pernas longas, cobertas por nylon preto e uma saia de cabedal, pelo meio da perna. O seu tronco estava coberto por um casaco de cabedal, e o facto de eu estar a seus pés não me permitia ver-lhe os detalhes da cara – apenas reparar no seu cabelo escuro e ondulado.
- Finalmente, tenho-te a meus pés… há bastante tempo que sonhava com isto…
Aquela voz não me era estranha – aliás, tinha a ideia de já a ter ouvido bastantes vezes. Então, ela agachou-se e agarrou no anel da minha coleira.
- Está na altura de pagares o que deves, fofa.
Quando, finalmente, tive um vislumbre da sua cara, tive um baque: tratava-se de Sónia Roque, uma das fornecedoras da minha empresa de confecção de lingerie. A sua empresa facultava-nos tecido para as nossas peças… só que, por causa da crise, eu não lhe havia conseguido pagar as últimas entregas – e, logicamente, comecei a dizer que iria pagar quando tivesse dinheiro, as coisas começaram a azedar… até aquele dia.
- Sabes, cansei-me de estar à espera que cumprisses com o que prometeste da última vez que estivemos juntos. Eu preciso do dinheiro que me deves para saldar os meus próprios compromissos… e há gente que começa a estar um bocadinho chateada. O que, logicamente, me faz ficar a mim chateada… e, como não há meio de me pagares o que deves, tenho de recorrer a meios menos … ortodoxos.
- O… o que queres dizer? – ousei perguntar – Que vais fazer?
Sónia não respondeu: em vez disso, a sua mão entrou no bolso do seu casaco, saindo de lá segurando numa máquina fotográfica. Quando dei por isso, ela estava a tirar-me fotografias. Assim que reagi, virei a cara e coloquei as mãos à frente, tentando evitar que ela capturasse a minha cara… e, como resposta, recebi mais um choque que me vez cair no chão.
- Pára quieta, estúpida! Ainda não percebeste que quanto mais estrebuchares, pior é para ti? – ralhou Sónia.
- Eu não sou nenhuma gaja! – gritei, recebendo mais um choque em seguida.
Ela agachou-se e agarrou-me na coleira, sorrindo com um ar nada amigável.
- Tu és aquilo que eu quiser. Até tu me pagares o que deves, pertences-me. E eu tenho a maneira perfeita de acelerar esse processo. Agora, continuamos com as fotos – e ergueu a mão com a máquina – ou com os choques? – e ergueu a outra mão, que segurava uma espécie de comando semelhante ao dos carros.
Tentei engolir o orgulho e baixei a cabeça.
Depois de quase uns dez minutos a ser fotografado em todas as poses e mais algumas, tendo de fazer poses sexy e tudo, Sónia pareceu ficar satisfeita. Ela guardou a máquina no bolso e soltou uma risada.
- Perfeito, já tenho aqui muita coisa com que trabalhar…
- Que pensas fazer, Sónia? – perguntei, irado – Chantagem?
- É uma boa ideia, essa, obrigado! Mas a minha ideia principal é outra… em primeiro lugar, estas fotos vão garantir o teu silêncio: se te calares sobre o que vai acontecer a seguir, elas nunca irão aparecer; em segundo lugar, vão servir para te publicitar. – e virou costas, dirigindo-se para a porta.
- Publicitar?!
Mas ela não ligou, saindo do quarto e fechando a porta à chave.

O meu isolamento naquele cárcere foi interrompido um par de horas mais tarde, quando voltei a ouvir a chave novamente na fechadura e a porta a abrir-se. Logo a seguir, Sónia entrou, sempre a sorrir. Tinha o telemóvel na mão.
- Temos já aí o teu primeiro cliente, Fifi. Altura de começares a trabalhar.
Senti um calafrio. “Cliente”?
- Como assim?
- Como não me pagas o que deves, vais trabalhar para mim até eu receber o dinheiro com que me ficaste. E se não o fizeres… há pessoas que vão receber umas fotografias da Fifi em trajes de criada.
- Não! – senti-me a ficar em pânico – Eu… eu pago-te tudo, prometo, mas…
- Estou farta de promessas, preciso do meu dinheiro já. E não quero manter o cliente à espera. De joelhos no chão já. – e voltou a mostrar-me o comando ameaçadoramente. Sentindo um arrepio gelado percorrer-me a espinha, obedeci-lhe.
Alguns instantes depois, ouvi um toque na porta. Sónia deslocou-se até lá e abriu-a, deixando entrar um homem se calhar da mesma idade que eu. Pelo canto do olho, pude ver que teria sensivelmente a minha altura mas uma barriga mais proeminente que a minha. Parecia um executivo.
- Disse-me que eram 60€ por meia-hora com ela, não foi? – disse ele, puxando da carteira.
- Exactamente. – retorquiu Sónia – E nem mais um minuto, que a Fifi tem uma agenda muito preenchida.
Vi um molho de notas mudar de mãos, com a minha captora – ou chula? – a sorrir avidamente.
- E a que tenho direito?
- A tudo. Convinha era que não fosse muito bruto com a rapariga, que ela ainda é um bocado verde no ramo… e convinha que não a estragasse.
- Não se preocupe, não a vou estragar… muito.
Tive um arrepio assim que o vi a desapertar as calças e a deixá-las cair no chão, para de seguida o ver a baixar umas cuecas com desenhos e a mostrar-me a sua pila ligeiramente erecta.
- Abre a boquinha, menina.
Gelei. Ele queria meter-me aquilo na boca! Sónia viu-me a hesitar; num ápice o comando voltou a aparecer na sua mão, o que teve como resultado imediato fazer-me abrir a boca. O cliente aproveitou e introduziu-me a sua ferramenta, agarrando-me na peruca – que estava bem presa! – e fazendo-me chupá-lo.
- Importa-se que assista? – perguntou Sónia – Gosto de ver a minha menina em acção…
Ele não disse nada, mas pareceu-me vê-lo assentir enquanto a sua mão me forçava a mover a cabeça para a frente e para trás, fazendo-me chupar-lhe a verga que ia aumentando de tamanho e grossura… mas não muito. Obviamente ele não era um homem muito abonado…
Pelo canto do olho, vi Sónia sacar da máquina fotográfica mais uma vez.
- Deixa-me tirar algumas fotos à Fifi em acção? Sempre ajuda à publicidade… não se preocupe que não lhe vou apanhar a sua cara.
Ele soltou uma gargalhada.
- Está bem, desde que ninguém me reconheça… hmmmmm…
Aquilo que eu estava a fazer estava a encher-me de náuseas, mas o facto de ouvir a máquina de Sónia fez-me continuar o que estava a fazer porque percebi a mensagem implícita: se eu não agradasse, ela poderia publicar aquelas fotos por todo o lado, humilhando-me e arruinando-me… por muito que eu estivesse maquilhado e disfarçado, perceber-se-ia sempre que era eu nas fotos.
- Vá lá, querida, mais participação, mais entusiasmo… – comentou ele – Mexe-me na pila, acaricia-me os tomates… faz valer a pena as 60 mocas que gastei contigo, puta!
Sentindo-me ainda mais humilhado, ergui uma das minhas mãos e fiz o que me disse, acariciei-lhe os testículos. Ele largou-me a cabeleira e deixou-me tirar-lhe a pila da boca, como que a deixar nas minhas mãos a iniciativa do que fazer a seguir. Disfarçadamente, vi Sónia a agitar a mão que segurava o comando que dava choques à minha coleira… e eu comecei aos beijos àquele órgão, masturbando-o para depois beijar, lamber e engolir-lhe os testículos. Ele voltou a gemer e eu lá continuei, rezando para que a meia-hora estivesse quase a acabar…
Então, ouvi-o:
- Chega, puta. Vamos a outras coisas.
Ele deu umas passadas atrás e afastou-se de mim, agarrando nas calças e vasculhando os bolsos à procura de algo. Quando ele retirou a mão de um deles, segurava um pacote com um preservativo. Ouvi os passos de Sónia atrás de mim e a sua mão agarrou-me na cabeleira:
- Ainda não percebeste o que o cliente quer? Mete-te em posição, já! – disse-me ao ouvido; depois ergueu-se – Onde a quer comer?
- Acho que debruçada na cama é o melhor.
Estarrecido, paralisei. Eles queriam que eu fizesse o quê?! De súbito voltei a sentir um choque eléctrico percorrer-me o corpo.
- Não ouviste o cliente?! Ali em cima, de cu espetado, já!
Quando o choque parou, todo eu tremia, tentando suster as lágrimas que me queriam cair. Todavia, obedeci: levantei-me (a custo, pois doía-me já as pernas e os joelhos de ter estado tanto tempo naquela posição), caminhei com dificuldades até à cama, encostei-me à beira da cama e deitei o meu corpo sobre ela, agarrando na ponta do meu vestido e erguendo-o, revelando o meu traseiro nu a ambos.
- Cuzinho muito fechado. Gosto! – comentou ele, aproximando-se de mim.
Senti umas mãos a acariciarem-me o esfíncter e a humedecerem-no, enchendo-o de uma substância qualquer, talvez vaselina. Assim que senti a ponta do seu órgão envolto em látex a encostar-se às bordas do meu cu, mordi os lábios e rezei para aquilo acabar depressa. Ele foi forçando a entrada no meu cu virgem e fechei os olhos com força, fazendo um esforço para não gritar. Ele estava a violar-me!
- Vou ser o teu primeiro? Ena, quanta honra!
- De facto, isto é um momento histórico que merece ser registado. – confirmou Sónia, que continuava a tirar fotografias ao momento.
As mãos do cliente agarraram-me nas ancas enquanto ele continuava a entrar dentro de mim. Ele não o fez com muita força, mas o meu ânus sempre tinha sido um orifício de saída, nunca de entrada! O cliente acelerou um pouco mas não muito as suas penetrações; pude ouvi-lo a gemer de prazer, e senti uma mão a agarrar-me no meu órgão, firmemente encerrado na sua prisão de plástico. As minhas mãos fecharam-se e enterrei as unhas na carne da palma das mãos. Como é que eu tinha chegado ali?!
De súbito, ouvi um apito electrónico, repetitivo.
- Está na hora. – ouvi a voz de Sónia, aparentemente sorrindo.
- Só… mais… um… bocadinho… está… quase… – a voz do cliente era quase um grito, que se transformou num grunhido de alívio logo a seguir, enquanto ele ia abrandando até parar de se mexer, ficando com a sua pila dentro do meu rabo. Ficou ali durante alguns instantes, para depois sair de dentro de mim; nessa altura senti um alívio inenarrável. Deixei-me ficar quietinho na mesma posição, desejando que aquele homem se fosse embora de uma vez e me deixasse em paz.
- Toma, fofa, um souvenir para ti. – e senti algo leve ser-me atirado para cima das nádegas; depois apercebi-me que era o preservativo, ainda com sémen lá dentro – Podes guardá-lo como memória da tua primeira queca… – e soltou uma gargalhada. 
Sónia também se riu e ambos saíram do quarto, enquanto eu me levantava da cama. Olhei para o preservativo – que, com o meu movimento, havia caído no chão – e, sentindo-me sujo, peguei nele com a pontinha dos dedos e despejei-o no caixote de lixo mais próximo.
Pouco depois, Sónia voltou. Parecia esfregar as mãos de contente.
- Bom, para primeira vez não está mau… o importante agora é ganhares prática para as próximas vezes.
Só então me caiu a ficha. Ela estava mesmo a falar a sério naquilo de me fazer “pagar a dívida com o corpo”!
- Sónia, eu… eu dou-te tudo o que quiseres, faço o que quiseres, mas por favor, pára com isto…
- Tu já vais fazer o que eu quero, “Fifi”! Vais meter o cu e a boquinha a render até a tua dívida comigo ficar saldada! Depois disso… bom, pode ser que te tire o cadeado do teu CB-6000!
Nisto ouviu-se uma campainha a ecoar pela casa.
- Ah, perfeito, o teu próximo cliente já aí está. Só para te avisar que este reservou uma hora contigo, portanto prepara-te!
- Não…
E Sónia voltou-se e saiu a caminho da porta da rua, deixando-me sozinho a sentir-me cada vez mais desesperado por uma solução para aquele Inferno.

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