sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Submissão eterna

Já não me recordava da última vez que conseguira descansar bem e sem interrupções. Desde algum tempo antes, não houve uma noite em que eu não tivesse pesadelos, daqueles que nos fazem acordar a meio da madrugada com suores frios e o coração a bater desenfreado no peito. 
Todas as noites o pesadelo começava da mesma forma: com uma ida a um cemitério. Eu deslocava-me até lá como um autómato, sem controlo sobre as minhas acções, e era atraído até um mausoléu decrépito, cuja porta se abria à minha chegada, convidando-me a entrar. Eu entrava e, logo a seguir, a porta fechava-se, selando-me dentro daquele túmulo. Havia um caixão lá dentro, que se abria e do qual saía uma mulher de cabelo negro e roxo, que então me olhava nos olhos e me fazia perder por completo a pouca força de vontade que ainda me restava. E, a partir daí, o que acontecia variava: ou ela me mordia no pescoço, banqueteando-se com o meu sangue, ou me mordia na garganta, quase me arrancando a traqueia, ou então fazia-me deitar ao lado da bancada onde o seu caixão estava e, com um cutelo, começava a desmembrar-me, espalhando sangue por toda a parte. E, sempre que eu acordava, parecia-me que o meu quarto estava envolvido por uma névoa esquisita. Todavia, sempre julguei que fosse uma ilusão de óptica causada pela falta das lentes de contacto.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

O bacanal

Sentia um misto de excitação e nervos à medida que íamos avançando por aquele corredor, à medida que chegávamos à sala onde tudo se iria passar. A falta de roupa também ajudava à tremideira que invadia o meu corpo: trazia vestido no meu corpo unicamente uma tanguinha de fio dental… para além de sapatos de salto alto pretos, a minha habitual gargantilha negra com uma cruz de prata e a máscara obrigatória para aqueles eventos: a minha era inspirada nas caraças dos Carnavais venezianas. A meu lado, Pedro segurava-me pela mão, gentilmente: ele estava vestido formalmente, de fato de gala e laço pretos. Trazia uma capa sobre os ombros, de capuz caído sobre a cabeça de cara coberta pela sua máscara, semelhante à minha.