quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A vingança

Cheguei a casa dele em pulgas. Havia adiado aquele momento até mais não, e naquela altura não aguentara mais. Toquei à sua campainha, e uma voz ensonada soou pelo intercomunicador:
- Quem é?
- Miss Leyla. Abre-Me a porta.
Pareceu-Me ouvir um engasgar, antes da porta do prédio se abrir. O som dos saltos das Minhas botas contra o chão ecoava pelo hall do prédio, enquanto Me dirigia ao elevador e o chamava. Sentia-Me impaciente: o tempo que aquela caixa metálica demorou a chegar ao rés-do-chão para Mim foi uma eternidade. Quando, finalmente, a porta se abriu, fiquei ligeiramente surpreendida por ele não Me ter vindo cumprimentar, como de costume. Melhor assim, dava-Me tempo para organizar as ideias. Carreguei no botão redondo com o algarismo ‘7’ e esperei.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

O treino (parte 8)

continuação...

Essa noite foi a última vez que vi Um. Nenhuma de nós soube o que lhe aconteceu, e as corajosas o suficiente para perguntarem a Lady Jewel qual o seu destino, apenas recebiam de volta um olhar gelado, sinónimo de que o melhor era mudar de assunto. Umas semanas depois, foi-nos apresentada uma rapariga ruiva, que usava um vestido do mesmo tom do de Um e com o mesmo número na bandolete. Foi-nos apresentada como a “Um”, a nossa nova companheira, Sete (uma rapariga – essa era-o de facto – loira e bem bonita, de vestido violeta) foi promovida à condição de "empregada pessoal" da Lady, e foi tudo. Umas comentavam em surdina que a castigada ainda estaria na jaula, dentro da sala de castigos, outras diziam que ela havia sido transferida para a cela novamente… nunca nenhuma de nós soube.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O treino (parte 7)

continuação...

O dia seguinte surgiu, e depois desse surgiu outro. Comecei a perder a noção da quantidade de dias passada desde a minha saída da cela onde havia sido vergada. Misericordiosamente, nos primeiros dias foi-me permitido recuperar das chicotadas e feridas infligidas durante a minha reclusão solitária, sendo bem tratada à noite por Seis, após a conclusão das nossas tarefas. Nesses primeiros dias fui também chamada algumas vezes por Lady Jewel aos seus aposentos, onde, sob o olhar de Um (acorrentada a um dos postes da cama) ela me fez dar-lhe prazer oral. Com o passar dos dias, após a habitual sessão com Lady Jewel, tive também de dar prazer oral a Um, enquanto a nossa Dona sorria e nos fotografava. Até que chegou mais uma noite de jantar.

domingo, 13 de outubro de 2013

O treino (parte 6)

continuação...

Depois da limpeza dos pratos, Seis pegou em mim e levou-me a conhecer o resto da mansão – ou, pelo menos, das áreas onde a nossa permanência era autorizada. Fiquei assim a saber que aquela casa era absolutamente gigantesca! Dir-se-ia que “palácio” era uma designação mais apropriada. À medida que fui andando pela casa, a minha companheira apresentou-me às minhas restantes colegas. No total éramos 31, entre mulheres e homens feminizados, divididos em grupos de dimensão variável. Numa semana um grupo estava afecto à limpeza da casa, outro às tarefas da cozinha, outro à lavagem da roupa de Lady Jewel – e ainda havia uma empregada com o papel de ser a criada pessoal da nossa dona. Na semana seguinte, havia rotação de tarefas. Todos os dias, acordávamos, comíamos qualquer coisa e tomávamos conta das nossas tarefas, apenas parando para o almoço; à tarde, retomávamos os nossos afazeres – com excepção de um grupo, chamado ao quarto de Lady Jewel para a servir nas suas fantasias sexuais; e, depois de jantar, dois dias por semana, enquanto as encarregadas da cozinha tratavam da lavagem da roupa, as restantes teriam de ir para o salão principal, onde Lady Jewel e alguns amigos as esperavam para se deliciarem com as empregadas. Confesso que fiquei estarrecida quando Seis me falou neste último ponto: ela referia-se a orgias! Apesar de tudo, naquele momento senti-me aliviada, pois, afinal de contas, Lady Jewel havia-me deixado na cozinha, o que, aparentemente, indiciava que eu estaria de serviço lá durante a semana. Ou assim pensava eu…

sábado, 12 de outubro de 2013

O treino (parte 5)

continuação...

Acabei por me deitar no chão, indiferente às arestas que me magoavam. Sentia vontade de urinar; acabei por fazer assim mesmo, como estava, naquela mesma posição, indiferente ao ficar com as pernas a cheirar a mijo.
A verdade é que eu estava a sentir pena de mim mesma. Havia percebido do quanto pode a dor ser uma forma de se controlar alguém, de se vergar uma pessoa à vontade alheia. Por isso desde a Idade Média se utilizava a tortura para se fazer pessoas confessar fosse o que fosse – porque resultava. E resultara comigo.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O treino (parte 4)

continuação...

Como se pode calcular, passei umas horas absolutamente horrorosas. Para além de estar numa posição terrível e de não arranjar jeito de me colocar confortável, o chão rugoso cheio de arestas feria impiedosamente a minha pele; e tinha ainda as molas nos lábios da rata a causarem-me uma dor insuportável. Durante largas horas limitei-me a soluçar desalmadamente e a pedir a Deus que me ajudasse a salvar daquela situação.
Apesar de ter levado aquele banho de mangueira, ainda me sentia suja em algumas partes. A cara ainda continha vestígios de gordura do jantar, e, para piorar a situação, os ferros que tinha na boca faziam-me babar descontroladamente.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O treino (parte 3)

continuação...

Como seria de esperar, não consegui dormir nada. Os meus lábios estavam ressequidos: toda eu me sentia a desesperar por uma gota de água, e o chão tormentoso em que e encontrava deitada não me deixava encontrar posição para descansar.
Não sabia quanto tempo havia passado desde a minha captura. Eu nunca fora muito boa a medir o tempo, e estando sem ajuda da luz natural, pior ainda. Talvez ainda só tivesse passado um dia… talvez já houvesse pessoas à minha procura. Não que isso me descansasse sobremaneira: duvidava seriamente que aquela maníaca não tivesse preparado tudo de forma a não deixar pistas em relação ao seu paradeiro. Aliás, tinha uma ideia de que ela já era experiente naquele tipo de coisas.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

O treino (parte 2)

continuação...

Passei umas horas horríveis. Era suposto tentar dormir mas o meu desconforto era demasiado. O meu cabelo estava ensopado em urina e exalava aquele cheiro a casa de banho mal lavada que me enojava e causava vómitos (e tive-os abundantemente), e a sensação das minhas cuecas húmidas no mesmo líquido fazia-me ter nojo de mim própria. Talvez fosse esse o objectivo daquela megera, humilhar-me até ao infinito… mas porquê? Que ganhava ela com isso? Afinal de contas porque havia sido raptada por aquela mulher – supondo que trabalhava sozinha? Tentei libertar-me, debati-me largo tempo, mas as minhas amarras não cederam um milímetro. E foi então que começaram os ataques de choro. O que seria de mim? Quanto tempo demoraria o meu marido a ir à polícia participar o meu desaparecimento?

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O treino (parte 1)

Aquele havia sido um dia demasiado cansativo. Fiz votos de não haver fila na estrada, pois todo o meu corpo suspirava por descanso. Receber chamadas, tratar da logística da distribuição do hipermercado, ter de aturar os colegas… Sentia-me estoirada e farta. Só que… tinha de continuar ali, pois precisava de dinheiro para conseguir sobreviver. As contas não se pagam sozinhas...
Cheguei a casa quase uma meia-hora depois de ter picado o ponto no escritório. Atirei as minhas coisas para cima de um sofá, olhei para o espelho do corredor e pensei ‘Bolas, como me sabia bem um mês ou dois de férias.’ O Paulo ainda não devia ter chegado, ele saía do trabalho mais tarde que eu. Atirei-me também para cima de outro sofá e comecei a sentir o sono a invadir-me...
Um barulho acordou-me. Olhei para o meu relógio de pulso dourado, oferta dele, e vi que tinha dormido quase duas horas. Abanei a cabeça e olhei para o estado catastrófico em que o sofá havia deixado as minhas roupas. Sentia o estômago a dar horas: havia passado demasiado tempo desde a última vez que havia comido. Tirei o casaco e fui até à cozinha, peguei numa fatia de pão e comecei a comer. Então o barulho voltou a ouvir-se: era a campainha da porta, que desta vez tocou durante mais tempo. Gritei um “Já vou! Já vou!” e regressei ao corredor, tentando adivinhar quem podia ser. Até podia ser o Paulo que se tinha esquecido das chaves de casa...
Sorrindo perante a ideia, abri a porta.
Um saco preto envolveu-me a cabeça.
E, a seguir, perdi os sentidos.