terça-feira, 15 de outubro de 2013

O treino (parte 8)

continuação...

Essa noite foi a última vez que vi Um. Nenhuma de nós soube o que lhe aconteceu, e as corajosas o suficiente para perguntarem a Lady Jewel qual o seu destino, apenas recebiam de volta um olhar gelado, sinónimo de que o melhor era mudar de assunto. Umas semanas depois, foi-nos apresentada uma rapariga ruiva, que usava um vestido do mesmo tom do de Um e com o mesmo número na bandolete. Foi-nos apresentada como a “Um”, a nossa nova companheira, Sete (uma rapariga – essa era-o de facto – loira e bem bonita, de vestido violeta) foi promovida à condição de "empregada pessoal" da Lady, e foi tudo. Umas comentavam em surdina que a castigada ainda estaria na jaula, dentro da sala de castigos, outras diziam que ela havia sido transferida para a cela novamente… nunca nenhuma de nós soube.

 
Algumas vezes pensei em infringir aquela regra, apenas com a curiosidade de ver o que tinha acontecido à anterior Um… mas o meu bom-senso falou mais forte. Naquela altura até tinha uma vida razoavelmente normal, e até as “noites de fim-de-semana” já não me faziam confusão, ou repulsa. Era um trabalho – o meu trabalho – e eu fazia-o para que não fosse castigada. E aquela noite serviu-me de lição, pois não voltei a cometer outro erro…
Nas “noites de fim-de-semana”, acabei por ser trocada no papel de “aliviadora oral” pela novata. O meu papel passou antes a ser o de utensílio de prazer para quem me quisesse usar. O casal que já referi antes gostava muito de me escolher como vítima dos seus fétiches, mas não foram eles os únicos a usar-me: homens e mulheres, novos e velhos, o meu corpo foi usado por todos eles. Fui esticada, agredida com chicotes, chibatas, lambida, apertada, picada com agulhas, amarrada em posições absolutamente desconfortáveis, enfiada em jaulas apertadas, mijada, penetrada por objectos, por pilas… e chorei muitas vezes durante essas noites, para deleite de quem me usava. Mas a noite acabava sempre com um sorriso nos meus lábios… porquê? Não sei. Talvez me estivesse a habituar àquilo… Talvez estivesse a tentar ver o lado positivo da vida que levava.
Todas as manhãs, tentava recordar-me de quem era e das pessoas que eu amava… mas era-me cada vez mais difícil consegui-lo. Eu tinha a ideia que Lady Jewel, de alguma forma, conseguia mexer com a nossa cabeça e apagar memórias antigas… e eu palpitava-me que os tampões com que nos tapavam os ouvidos todas as noites teriam algo a ver com isso. Muitas vezes, antes de me deixar dormir, conseguia ouvir murmúrios, sons esquisitos, provenientes dos tampões… E, um certo dia, deixei de saber o meu próprio nome. Para todo o mundo, eu era agora a Dezanove, empregada e escrava sexual.

Todavia, até a boa vida que eu levava tinha os seus dias contados… No dia seguinte a mais uma “noite de fim-de-semana”, Sete, na sua condição de “empregada pessoal”, veio ter comigo e disse-me que Lady Jewel queria falar comigo no seu escritório. Fiquei com cara de caso, pois esse era um dos espaços que nos eram vedados. Segui a minha colega até à porta, batendo à porta e entrando após ouvir a ordem de Lady Jewel.
Lá dentro, a Lady estava sentada detrás de uma bela secretária de mogno, com um monitor de LCD em cima. Escrevia no computador, recostada na sua cadeira de reclinar. Nas paredes, viam-se quadros de paisagens paradisíacas.
- Senta-te. – disse-me, assinalando-me a cadeira à frente da secretária. Obedeci, ouvindo a cadeira de madeira soltar uns suaves rangidos.
Esperei que Lady Jewel começasse a falar, mas ainda demorou algum tempo, pois ela ainda escrevia algo ao computador. Finalmente ela virou-se para mim.
- Esta vai ser a tua última noite nesta casa.
Eu não consegui ver as suas feições, pois ela tinha os estores das janelas do escritório por detrás de si entreabertos, iluminando-me bem a cara, mas ela pôde ver bem o ar de espanto que fiz.
- Co-como, Senhora? – gaguejei – Fiz alguma coisa de errado?
- Não, muito pelo contrário. – ouvi-a dar uma gargalhadinha – Apesar de eu gostar da tua companhia, pois és boa trabalhadora em todos os sentidos, hoje fizeram-me uma proposta muito tentadora por ti. E eu decidi aceitá-la.
- Mas… mas… – não consegui articular palavra. Agora que estava acostumada àquela vida, tinha de me ir embora?
- A pessoa em questão viu-te, viu o quão bem-comportada és, o quão obediente és, e fez uma oferta bastante generosa por ti. E a partir de amanhã passas a ser escrava pessoal dessa pessoa.
- Senhora, eu… eu tenho algum voto na matéria?
Ela olhou para mim com ar de quem fala com alguém de inteligência inferior.
- Claro que não, escrava. Olha agora…
- Mas eu preferia ficar aqui… – comecei.
- Eu sei que sim, mas não podes ficar aqui para sempre. Durante o dia de hoje tratam-se dos pormenores legais, à noite trataremos da tua despedida, e amanhã dizes-nos adeus para sempre, esperamos nós.
- Pormenores legais…?
Mas a Lady acenou-me como quem enxota uma mosca.
- Estás dispensada, Dezanove.
Engoli em seco.
- Sim, Senhora.
Levantei-me e saí do escritório.

Essa tarde, para mim, foi horrível. Não me consegui concentrar nas tarefas, tinha as mãos a tremer, toda eu estava uma pilha de nervos. Quando contei a Seis a novidade, pela primeira vez, vi o seu sorriso desaparecer: havíamo-nos tornado, de certa forma, amigas, e odiava ter de a deixar – assim como eu odiava deixar aquela casa e aquelas raparigas… e até a própria Lady Jewel. Abraçámo-nos com força, tentando não chorar.
Porque me custava tanto sair dali? Eu não era livre, não podia movimentar-me com liberdade, não podia ir passear até sítios lindos no exterior… mas ali estava com pessoas de bem, raparigas (e crossdressers) bonitas, bem-dispostas, que eram boas pessoas; e eu tinha muito medo da mudança. Tinha medo de que o meu novo dono fosse um bruto sádico que me quisesse atormentar todos os dias, do mesmo género do casal que tanto me adorava requisitar… o meu coração quase parou: e se fossem eles os meus novos donos? E se eu tivesse de passar o resto da minha vida a engasgar-me na pila dele e a beijar o metal dos piercings dela? Para isso preferia continuar ali, a servir Lady Jewel, pois apesar de ela conseguir ser cruel, também tinha alturas em que era querida connosco…
Essa noite era a segunda “noite de fim-de-semana”; todavia, por aquela ser a minha última noite, fui dispensada de comparecer. Durante o jantar de empregadas, Lady Jewel fez o anúncio da minha despedida. Vi algumas lágrimas delas e fui abraçada por todas. Confesso que mal consegui comer… Depois de jantar, Sete pegou em mim, com delicadeza, e foi-me levar ao quarto de Lady Jewel, deixando-me lá sozinha. Bati à porta, a tremer.
- Entra!
A primeira coisa que vi assim que entrei foi Lady Jewel, de pé e mãos nos quadris, a olhar para mim. Envergava um catsuit transparente de látex, com fechos na zona dos mamilos, e um corpete preto a apertar-lhe a cintura. Por baixo, na zona do baixo-ventre, ela envergava umas cuecas de borracha com um dildo colado às mesmas. Era difícil não tirar os olhos daquele pau…
- Tira a roupa. – ordenou – Toda.
Fiz o que ela me ordenou, nervosamente, tirando as minhas luvas, o meu vestido, as cuecas, o cinto de ligas e os sapatos, ficando apenas com o cinto de castidade e com as meias (porque tinha as algemas nos tornozelos a impedir-me de as tirar, situação prontamente resolvida pela Lady). Em último lugar, ela abriu-me o fecho do cinto, deixando-me totalmente nua, apenas com as braceletes nos pulsos e tornozelos e a coleira ao pescoço. De seguida, prendeu-me os pulsos atrás das costas e prendeu-me uma trela de cabedal à coleira.
- Muito bem, agora vamos. – e arrastou-me.
Levou-me pela mansão, de regresso à porta que os conduzia às masmorras e às celas. O meu nariz captou o cheiro a suor, ouvi o som de choros, de berros e pensei ‘estive aqui, fiz isto’. Lady Jewel olhava para as portas das celas ocupadas, tentando decidir quem seria o escravo ou estrava indicado para a minha despedida. Quando decidiu, Lady Jewel ordenou-me para estar quieta e calada, enquanto ela abriu uma porta e entrou, deixando-a fechada.
Durante os momentos que estive ali, quieta, tremendo de medo, de antecipação, de ansiedade, relembrei os meus primeiros dias naquela mansão. O pânico em que fiquei, ao acordar dentro daquela cela escura e bafienta, amarrada e amordaçada com as minhas cuecas, o meu primeiro encontro com Lady Jewel, a mudança para a cela em que até o chão magoava, o ser humilhada todos os dias, comer como uma cadela, mijar no chão, ser agredida… e o quanto a minha situação havia mudado nos últimos meses. Claro que nem tudo era rosas, afinal de contas eu usava coleira e algemas, dormia amarrada à minha cama e havia perdido a minha identidade, mas eu tinha alguma liberdade, algum conforto, tinha amigas… Então, Lady Jewel reapareceu, pegou-me na trela e levou-me para dentro da cela.
Lá dentro o cheiro a urina e suor tornou-se mais forte. À nossa frente estava um homem pequeno, careca, talvez entre os 35 e os 40 anos, com uma barba enorme e um brinco nas orelhas, tendo os braços e o corpo cobertos de tatuagens – tinha pinta de motard. Tinha os cotovelos e pulsos amarrados atrás das costas, uma mordaça vermelha metida na boca, uma venda nos olhos e um aparelho de castidade enfiado nos genitais.
Lady Jewel tirou a corrente que unia as algemas dos meus pulsos, e fiquei a olhar na direcção da trela do submisso.
- Posso, Senhora? – perguntei.
- É para isso mesmo que aqui estás. – a Lady respondeu, já com a sua câmara a postos.
Agarrei-lhe na trela e fi-lo levantar-se, ficando ao meu nível; abracei-o e comecei a beijá-lo nos lábios, a lamber-lhe a bola de borracha que tinha na boca, a provar-lhe a saliva. A minha língua começou a descer cada vez mas, da sua boca para os seus mamilos, para o seu peito, para o seu umbigo, para o seu baixo-ventre… e não parei ao chegar à sua pila. Apesar de ele ter uma cobertura metálica a tapar-lhe o órgão, beijei-lhe a glande e comecei a chupá-lo, apaixonadamente. Lady Jewel riu-se; de seguida, pegou numa chavezinha minúscula e tirou o aparelho de castidade dele, dando-me acesso total à sua pila… e aí meti-a toda na boca, sem hesitar. O captivo começou a grunhir ao sentir os meus lábios a rodearem a sua pila, ao sentir a minha língua de encontro à pele suave do seu órgão, ao sentir a minha boca a envolvê-lo por completo… Abri os olhos e vi, de relance, Lady Jewel a colocar um preservativo no seu dildo, a esfregar algo nele e a aproximar-se do traseiro do submisso; no momento a seguir, ele deu um gemido ainda mais forte.
- Este gajo parece um machão, não parece? – disse Lady Jewel, enquanto comia o rabo dele – Tem um aspecto de durão, não é?
Assenti, enquanto continuava a chupar-lhe a pila, a devorá-la como se a minha vida dependesse disso, a masturbá-la enquanto a lambia.
- Pois bem, este maricas adora ser enrabado como uma menina… um dia vamos vestir-te como uma menina, cortamos-te essa barba horrorosa e passamos a tratar-te como uma mulher. Gostavas disso, escrava, não gostavas?
Ouvi-o gemer, assentindo, enquanto ele continuava a ser enrabado por Lady Jewel e a sofrer a influência da minha boca na sua pila… e não demorou muito até o sentir começar-se a vir, enchendo-me a boca de sémen, que, depois de engolir algum, comecei a deixar cair no meu peito, sentindo aquela substância quente a escorrer-me ao corpo abaixo. Sentia-me possuída…
- Senhora, por favor… – comecei a implorar – dê-me prazer, faça-o satisfazer-me… Preciso…
Ela riu-se.
- Realmente tens razão! A festa é tua, tu é que tens de ser presenteada! Mas gosto tanto de te ver chupar, fica-te tão bem… – e, continuando a rir-se, saiu de dentro do rabo dele, desapertando-lhe a mordaça; de seguida, fê-lo ajoelhar-se no chão, mesmo naquela zona onde o chão era mais áspero, e imediatamente eu deitei-me à frente dele (mas onde o chão era suave). Então ela dirigiu-se a ele – Começa a lamber-lhe a cona, e rápido!
Ele pareceu hesitar, mas foi logo obrigado a encostar a cara ao meu baixo-ventre, pois agarrei-lhe no cabelo e puxei-o para mim, ao mesmo tempo que ouvi uma chibatada nas suas nádegas. Logo a seguir comecei a ter a sua língua a lamber-me os lábios vaginais, se bem que um bocado a medo. Protestei logo:
- Senhora, ele está tão tímido…
Soou logo outra chicotada na nádega dele.
- Está tímido porque não está a levar no cu! Tenho de deixar de lhe dar esse mimo, é o que é… Vá ver, quero ouvir a puta da minha empregada a gemer de prazer!
Ele não respondeu, mas lá começou a meter mais língua dentro de mim, e fez-me inclinar a cabeça para trás, com as minhas mãos a começarem a tocar nos meus mamilos, a apertarem os meus seios…
Senti os beijos do prisioneiro na minha rata, soprando ventinho para a minha vulva cada vez mais encharcada… Naquela altura teria dado tudo para ser penetrada por alguém com uma pila grande! A ideia deixou-me ainda mais molhada… e acabei por me vir na cara barbuda dele, sujando-o com os meus fluidos. Afastei-o logo de mim… Precisava de me acalmar. Sentia-me tão diferente, tão possuída, tão debochada… Eu não era assim! Mesmo depois de meses naquela mansão a viver unicamente para ser uma escrava sexual, eu não era uma devassa! Todavia…
- Senhora, por favor… Quer comer-me o rabo? – perguntou alguém; só um instante depois percebi que tinha sido eu a falar.
- A sério? – foi a resposta – A minha puta quer ser enrabada pelo meu magongo?
- Por favor… – voltei a implorar – E quero montá-lo…
- Isso pode-lo fazer à vontade! – continuou Lady Jewel – Ele é teu durante esta noite… Agora quanto ao teu cuzinho… quanta vontade tens tu?
Sentei-me em cima do baixo-ventre do prisioneiro, já amordaçado por Lady Jewel, e fi-lo entrar na minha rata molhada. Ele ainda estava duro…
- Muita, Senhora… preciso muito…
Comecei a “cavalgar” nele, fazendo-o entrar e sair de mim; de súbito, tive duas mãos envoltas em borracha a abraçarem-me por trás e uma ponta suave a ser encostada ao meu ânus.
- Quere-lo? – sussurrou-me ela ao ouvido, lambendo-me a orelha depois de falar.
- Por favor… Senhora… Preciso tanto… Quero… Muito…
Ela deu uma gargalhada; e foi ainda a rir-se que me começou a foder o rabo.
- Oh, oh… Oh… Obrigado, Senhora, obrigado… – gemi, sentindo aquela pila a violar-me o cu e ainda a pila do prisioneiro bem dentro de mim, a entrar e sair-me da rata.
A princípio, Lady Jewel moveu-se lentamente, mas eu estava tão possuída e agitava-me de modo tão frenético que ela não teve outra opção senão acelerar a cadência. Sabia que o dia seguinte é que iam ser elas… mas naquela altura não conseguia pensar, apenas queria sentir prazer, atingir mais um orgasmo com duas pilas dentro de mim! Arranhei o homem com as unhas, saltei em cima dele à medida que a Lady me ia fodendo, chupava os meus próprios mamilos…
E então, um orgasmo tremendo tomou conta do meu corpo.

A noite acabou comigo na cama de Lady Jewel. Sob o olhar de Sete, cuja trela estava acorrentada a um dos postes da mesma, a Lady amarrou-me os pulsos atrás das costas e os tornozelos, colocou-me um plug e meteu-me debaixo dos lençóis. Tive, mais uma vez, como tantas vezes fizera dantes, de lhe lamber a rata e de a fazer vir-se na minha boca. Depois, ela deixou-me cair no chão, em cima de uma pele de ovelha, onde passei a noite, tentando dormir. Tentando, pois não consegui pregar olho… sentia-me demasiado inquieta e nervosa para isso.
Ao amanhecer, Lady Jewel levantou-se, pegou em Sete e saiu no quarto, deixando-me sozinha. Antes de sair, disse-me que eu ia ficar ali até à chegada do meu novo Dono. E ali fiquei, abandonada e sem contacto de ninguém durante algumas horas. Estava a morrer de fome, mas não tinha autorização para sair dali… e Lady Jewel havia trancado a porta à chave quando saíra. Aquele período de isolamento não fez nada bem à minha ansiedade – muito pelo contrário: toda eu tremia, e houve alturas em que não consegui reprimir a vontade de chorar. Sentia-me como quando havia sido raptada, cheia de incertezas, de medos…
Como disse, passaram-se horas até alguém aparecer ao pé de mim. Ouvi a porta a abrir-se, para depois aparecer Sete, novamente.
- O teu novo Dono vem a caminho. Tenho de te lavar… – disse, enquanto me desamarrava os pulsos e os tornozelos, tirando-me as braceletes dos pulsos e dos tornozelos e retirando-me também o plug.
- Tu… tu sabes quem é? – ousei perguntar.
- Claro que não, Lady Jewel nunca nos confia essas coisas. – respondeu-me Sete, enquanto me pegava suavemente pelo braço e me levava em direcção a uma das casas de banho – Nós nem sequer o vamos ver…
Não reagi quando ela me colocou na banheira, e procurei distrair-me de tudo à medida que a empregada me ia molhando e passando champô pelo cabelo e a esponja imersa em gel de banho pelo corpo, fazendo questão de que cada milímetro da minha pele ficasse bem limpa. Também fez questão de esfregar as minhas áreas erógenas, e aí comecei a sentir alguns calores – todavia Sete não se tentou aproveitar de mim, continuando a ser profissional na sua tarefa. Quando acabou de me dar banho, fez-me sair da banheira e passou-me a toalha pelo corpo e pelo cabelo, sempre com a maior das delicadezas. Durante todo o banho, ela não proferiu uma única palavra, e eu acabei por fazer o mesmo.
Fui trazida de volta ao quarto de Lady Jewel, onde me esperavam uns sapatos de salto alto, pretos. Ainda olhei à procura de mais roupa, mas parecia que eu não iria ter direito a mais nada. Suspirando, acabei por me calçar, ficando empoleirada em cima dos tacões de 15 cm de altura, ou parecido. Então ouviu-se um ‘bong’ prolongado, quase como se se tivesse tocado numa campainha gigante.
- Vamos, Dezanove. – declarou Sete, agarrando-me novamente no braço – Acho que o teu Dono já chegou…
Engoli em seco.
Sete levou-me até ao escritório de Lady Jewel, batendo à porta antes de receber autorização para a abrir. Assim que entrámos, vi um homem sentado na cadeira em frente a Lady Jewel; ambos se levantaram quando entrámos as duas, mas, como estava com a luz exterior nos olhos, não consegui ver quem me havia adquirido. Baixei a cabeça.
- Wow… – ouvi uma voz masculina, que me pareceu conhecida (sem, contudo, ser a do homem que eu abominava, o que sempre me fez sentir um tudo-nada mais descansada) – Vista ao vivo, au naturel, vê-se que ela tem bons atributos. A farda escondia-os… – e riu-se, enquanto Lady Jewel se aproximava de nós.
Baixei a cabeça, tentando fazer uma vénia.
- Senhora, Senhor.
Vi-o voltar-se para a Lady.
- Portanto, todas as burocracias já se encontram tratadas, é assim?
- Exactamente, Sr. Graça. Falta só as nossas rúbricas nos contratos e tudo estará pronto.
Não ousando levantar os olhos, limitei-me a ouvir o som quase surdo de canetas a escreverem em papel.
- O dinheiro já foi transferido para a sua conta? – perguntou ele, enquanto tratavam de arrumar os papéis.
- Foi sim. – pareceu-me ver um sorriso aparecer no rosto de Lady Jewel.
- Portanto, está tudo despachado?
- Sim, senhor. – foi a resposta de Lady Jewel – Agradeço-lhe bastante a paciência, e peço que me desculpe se algo não tiver corrido da melhor forma. Se houver alguma coisa errada, passe por cá e informe-me, ou traga-ma, para vermos o que podemos fazer por ela.
Fiquei sem saber como reagir quando a ouvir falar daquela forma, tratando-me como uma mercadoria. Então, ouvi uma gargalhada.
- Oh, tenho a certeza que ela não vai causar problemas. – disse ele, o Sr. Graça.
Então Lady Jewel aproximou-se de mim e agarrou-me na coleira, tratando de a desapertar e de ma retirar.
- Bom, é aqui que os nossos caminhos se separam. – declarou ela, olhando para mim – Adeus, escrava. Espero que nunca te esqueças do que aqui aprendeste.
- Sim, senhora… – respondi num murmúrio
Esperei que ela me abraçasse, ou me desse um beijo de despedida… mas ela limitou-se a sentar-se de novo à secretária; em vez disso, o meu Dono levantou-se, aproximou-se de mim e colocou-me uma outra coleira – a sua coleira. Só então eu pude vislumbrar bem a sua cara… e reparei que, realmente, ele me era conhecido: era o rapaz que havia ficado fascinado comigo aquando da minha geral na primeira “noite de fim-de-semana”. Quando acabou de colocar a coleira, ele prendeu-me uma trela.
- Sete, acompanha-os à porta. – disse Lady Jewel, sem levantar os olhos do que estava a fazer.
- Sim, Senhora.
Passei pela porta do escritório, ficando a olhar para trás, para Lady Jewel, para a minha torturadora, captora e treinadora durante os últimos meses, que me havia transformado de mulher a um mero brinquedo sexual. E, naquele momento não a odiava. Não diria que lhe estava grata pelo que ela me havia feito… mas não sentia aquele ódio por aquela megera, mesmo com todas as humilhações a que ela me sujeitou.
Descemos as escadas, eu sempre na cauda do grupo, e fui levada, sempre de cabeça baixa, até à porta de entrada. Tive vontade de abraçar a minha (agora ex) colega assim que ela abriu a grande porta de entrada, mas a trela não mo permitiu. Assim que passei pela porta, a claridade quase me cegou. Já não sabia quando havia sido a última vez que havia estado no exterior…
- Dentro de casa há muito tempo, hein? – perguntou ele.
- Sim, meu Senhor.
Quando os meus olhos se habituaram à claridade exterior, pude observar que estávamos num descampado, com vinhas ao redor, algumas árvores de fruto e uma auto-estrada ali perto. Comprovei que a casa onde havia sido prisioneira nos últimos tempos era de facto enorme, uma autêntica mansão de paredes cor-de-rosa suave. Havíamos percorrido um caminho empedrado até ao carro do meu Dono, um jipe preto. Assim que nos abeirámos dele, abriu-me a porta da pendura, com um sorriso.
- Não te habitues a isto, minha cara. Assim que cheguemos a casa, vais ser tu a fazer-me as vontades, e não ao contrário.
Assim que ele se sentou no seu lugar, ficou a mirar-me, de olhar fixo no meu rosto, enquanto eu baixava os olhos.
- Meu Deus… és realmente perfeita. A tua carinha… pareces tão pura, tão inocente… – tocou-me no queixo com a sua mão; em resposta, esfreguei a minha cara de encontro à sua pele.
- Obrigado, meu Senhor.
Ele sorriu, enquanto ligava o carro.
- Então, como te chamas?
- Erm… – engoli em seco. Como já referi, com o tempo (e sem dúvida graças a algum dispositivo manhoso de Lady Jewel) havia perdido as minhas memórias mais básicas, como a minha identidade – Dezanove.
- Quê?
- Foi o nome que Lady Jewel me deu assim que comecei a ser treinada… não sei mais nenhum. Já nem me lembro do meu nome original…
Pareceu rir-se.
- A sério? – o seu tom de voz indicava incredulidade.
- Sim, meu Senhor. Apenas sei que sou uma empregada. Que vivo para servir. Para O servir.
- Bom, sendo assim… vou passar a chamar-te “Isabel”.
Riu-se mais uma vez, engatou a primeira mudança do carro e começámos a andar.

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