sábado, 12 de outubro de 2013

O treino (parte 5)

continuação...

Acabei por me deitar no chão, indiferente às arestas que me magoavam. Sentia vontade de urinar; acabei por fazer assim mesmo, como estava, naquela mesma posição, indiferente ao ficar com as pernas a cheirar a mijo.
A verdade é que eu estava a sentir pena de mim mesma. Havia percebido do quanto pode a dor ser uma forma de se controlar alguém, de se vergar uma pessoa à vontade alheia. Por isso desde a Idade Média se utilizava a tortura para se fazer pessoas confessar fosse o que fosse – porque resultava. E resultara comigo.

 
Por causa da dor, eu considerava agora ceder aos caprichos sadistas daquela pessoa (que eu ainda nem sabia quem era) e aceder sem hesitar a tudo o que me ordenasse – fosse o que fosse. Para não ser magoada mais nenhuma vez, estava disposta a deixar de ser dona de mim mesma e passar a ser propriedade de outrem… com todas as implicações desse acto. A ideia provocou-me lágrimas…
Ouvi um rumor no exterior da minha cela; segundos depois, a porta abriu-se, entrando a minha captora. Vi que trazia uma roupa diferente: um vestido de borracha transparente, saltos-agulha pretos altíssimos e luvas de látex pelo meio do braço. Trazia nas mãos duas tigelas de metal.
- Olá, puta. – cumprimentou-me ela.
- Olá... Senhora… – respondi, engolindo em seco.
Ela pousou ambos os recipientes no chão, não muito longe de onde eu estava. De seguida, e para minha surpresa, agarrou-me pelo cabelo e fez-me ajoelhar, dando-me um par de bofetadas. Bolas, com aquelas luvas, dava ideia que as chapadas doíam mais…
- Isto é para ver se aprendes uma coisa de uma vez por todas. – disse, atirando-me para o chão novamente – Não se olha o Dono nos olhos. Só se ele to ordenar.
Senti mais uma vez o sabor do sangue na boca. De olhos fechados, respondi:
- Sim, senhora… Não volta a acontecer.
- Espero bem que não. – ela deu uns passos atrás – Presumo que tenhas fome.
- Muita, senhora… – sempre de joelhos, aproximei-me das tigelas – Posso comer?
- Ainda não. Antes de mais, tens de te lavar. – saiu da cela e foi buscar a mangueira enorme. Tentei levantar-me, para logo a seguir me encostar à parede, tal como da outra vez: sabia que aquilo ia doer… Assim que o jacto de água começou a varrer o meu corpo e cara, tive vontade de berrar de dor, mas acabei por me controlar. Qual era a utilidade de pedir o fim daquela tortura mascarada de acto de bondade? Aquela víbora sempre faria o que quisesse de mim…
A limpeza, misericordiosamente, durou menos tempo que da outra vez. Ainda assim, quando ela fechou a torneira, estive quase a deixar-me cair no chão. Sentia-me exausta para além do possível…
- Então? – ouvi-a – Não queres comer?
Voltei a aproximar-me das tigelas, ajoelhando-me à sua beira. Voltei a deter-me antes de começar a comer.
- Posso, senhora?
Ela não respondeu logo. De braços cruzados, ficou a olhar para mim, vendo o estado do meu corpo torturado, a pingar água.
- Podes. – acabou por dizer.
- Obrigado, Senhora… – respondi, quase instintivamente, antes de afocinhar na tigela que tinha a comida. Pareciam ser cubos de carne semelhantes aos da última vez, e sabiam ao mesmo, o que já não era mau. Foi num ápice que os devorei, acabando a sorver as últimas gotas de água da outra tigela. Entretanto a minha trela havia sido solta da parede, estando naquele momento a outra ponta na sua mão. A outra mão estava a levantar o seu vestido...
- Vem. – comandou-me.
De joelhos, exausta, fui-me movimentando a custo até me encontrar debaixo das suas pernas. Fiquei algo temerosa a pensar que ia sofrer mais uma mijadela em cima, mas parecia que não era esse o seu desejo. Em vez disso, colou-me a cara à sua rata.
- Então… lambe-a! É altura da sobremesa, escrava.
Com a língua de fora, comecei a lamber-lhe os lábios vaginais – que já aparentavam estar algo húmidos. Beijei-lhe a ratinha de cima a baixo, cobri-a de beijos, ouvindo a megera suspirar. Se ela queria ter prazer, eu dar-lhe-ia prazer, pois então, apesar do cheiro a rata ainda me deixar algo enjoada, e apesar das dores de cansaço que sentia no meu corpo todo. Senti a sua mão enluvada agarrar-me no cabelo, a manter-me em posição, a forçar-me a lambê-la. Em vez disso, comecei a enfiar-lhe a língua rata dentro, sentindo o seu calor e a sua humidade.
- Oh, caralho… – gemeu.
Enfiei a língua o mais fundo que consegui, para depois a retirar e voltar a enfiar, estando neste movimento de vaivém durante alguns minutos, até começar a sentir os músculos cansados. Entretanto, os seus gemidos começavam a aumentar de volume, assim como a força com que agarrava no meu cabelo. Houve alturas em que ela me fez estrebuchar com falta de ar, pois apertou-me a cara contra a sua vulva com tanta força que me tapava o nariz e fazia sufocar. Mas eu continuei… sem saber muito bem porque o fazia, porque estava a lutar tanto para dar um orgasmo àquela mulher demoníaca. Senti-a cada vez mais próximo do clímax e podia perfeitamente ter parado, da mesma forma que ela parou da vez anterior, quando parou de me enrabar quando eu estava próxima do orgasmo, para ver como reagiria ela… mas suspeitei que isso me traria resultados adversos. Acabei por continuar a fustigar-lhe a vulva com a língua, a penetrá-la sem parar, apesar do meu próprio cansaço… e acabei por atingir a minha meta pouco depois, com ela, depois de um último grito, a chegar ao clímax. A humidade dos seus lábios aumentou até começarem a escorrer fluidos para a minha boca, que acabei por lamber também ainda algo a contragosto – todavia, tinha algum receio do que ela me faria se os cuspisse ou me negasse a acolhê-los na minha boca…
A sua mão acabou por largar a minha trela alguns instantes depois, fazendo-me cair no chão. Tinha a boca positivamente exausta e os músculos da língua quase em fogo, para além de um sabor a orgasmo na boca. Ainda assim, acabei por me sentir um bocadinho melhor quando ouvi as suas palmas, por cima de mim:
- Bravo! Sim senhora, estás a ficar profissional nisto de lamber conas!
- Obrigado, senhora… – respondi, quase sem fôlego.
- Veremos daqui a dias como andam as tuas capacidades na nobre arte de lamber caralhos, se és assim tão profícua… mas isso serão outras núpcias. Antes disso, acho que já estás dócil o suficiente para mudares de instalações e conheceres o resto da malta.
O meu coração quase parou. Havia mais pessoas na mesma situação que eu? Mais homens e mulheres a serem vergados e castigados e a serem ensinados a serem escravos sexuais? Bom, o escravo que me havia possuído da outra vez já seria um indício bastante claro disso mesmo… mas confirmar essa possibilidade para mim ainda era algo chocante.
Nem tinha dado pela minha captora sair da cela e voltar, ostentando nas suas mãos um embrulhinho azul que colocou ao pé de mim. Depois disso, ajoelhou-se atrás de mim e tirou-me as algemas dos pulsos – e só então eu reparei que já mal sentia as mãos, depois de tanto tempo imóveis na mesma posição… As suas mãos agarraram-me na coleira que tinha ao pescoço e removeram-ma, para depois colocarem uma outra, mais grossa e fria – de metal, aparentemente – prendendo-lhe a trela logo de seguida. De seguida, libertou-me os peitos.
- Podes abrir o embrulho, é para ti. – ordenou ela.
Ainda a fazer ginástica com os dedos e os pulsos, a fim de reactivar a circulação, peguei naquele invólucro e abri-o, retirando de lá algumas peças de roupa aparentemente feitas de borracha – semelhantes ao vestido da minha captora. Olhei inquisitivamente para a mulher.
- Sim, escrava, são para vestires. E se tiveres problema em colocares algumas delas, porque a borracha prenda na pele, esfrega isto na tua pele. – e entregou-me uma garrafita preta.
- Sim, senhora.
Peguei numa tanga azul e coloquei-a, sentindo-a algo apertada na zona do baixo-ventre. A seguir, prendi um cinto de ligas à cintura, para depois encontrar um par de meias. Nem tentei vesti-las: peguei na garrafa e despejei algum do seu conteúdo nas minhas pernas; para minha surpresa, as meias deslizaram com alguma facilidade pela perna, podendo depois prendê-las ao cinto de ligas. Coloquei um bocado de óleo nas mãos, pois tinha também umas luvas pretas de borracha, curtas, para calçar. Então, pequei no vestido azul que ainda tinha para vestir: tinha semelhanças com um uniforme de criada, se bem que algo curto e translúcido – para além de azul, pois então. Comecei a espremer-me dentro dele, debatendo-me com aquilo, e acabei por vesti-lo perfeitamente, verificando que me assentava como uma luva. Tinha também uns sapatos de salto alto, pretos, e com um tacão algo elevado (15 cm, talvez), um pouco alto demais para aquilo que eu estava habituada… ainda assim, calcei-os.
Assim que fiquei pronta, a minha captora olhou para mim de alto a baixo.
- Perfeito. – e sorriu, entregando-me o último item do meu uniforme: uma bandolete branca, com o número ‘19’ lá escrito. Coloquei-a na cabeça, fazendo com que me prendesse o cabelo para não vir para os olhos.
A sua mão pegou-me na trela e fez-me caminhar em direcção à porta.
- Bom, vamos lá a ver o que vai mudar na tua vida daqui em diante. – assim que passámos a entrada da que havia sido a minha cela durante os últimos dias (?), ela fechou-a e tirou um papel que estava lá colado do lado de fora. Reparei que, nas outras celas, apenas mais uma tinha papel.
“- Vais passar a ser parte integrante do meu staff de servos, que vão tratar das tarefas da mansão, da cozinha, e de me dar prazer assim que eu o pretender. A partir de agora, ir-me-ás tratar como ‘Lady Jewel’; eu e todos os teus colegar chamar-te-emos pelo teu número, ‘Dezanove, ou ‘Empregada Dezanove’. Um bocado básico, eu sei, mas é simples e dá menos chatices. – parámos defronte de mais uma grande porta de madeira. Lady Jewel abriu-a para passarmos, fechando-a à chave logo depois.
Dava ideia de termos entrado numa dimensão totalmente diferente! Estávamos agora num corredor bem iluminado e decorado com quadros antigos e seguramente valiosos, corredor esse que nos levou até uma sala acolhedora – para além de enorme – cheia de sofás e móveis de madeira escura com aspecto de serem do século XIX e com uma lareira acesa numa das pontas. Um dos outros cantos tinha mesmo uma armadura medieval montada. Só depois de algum tempo reparei que não estávamos sozinhas naquela sala: uma outra rapariga estava a limpar a mobília com um espanador. Era loura, bem parecida, e ostentava roupas semelhantes às minhas, apenas em verde. A sua bandolete também tinha um outro número: ‘7’. Quando ela deu por nós, virou-se e baixou imediatamente o seu olhar.
- Lady Jewel… – disse a rapariga, com uma voz melosa.
- Continua o que estavas a fazer. – disse a mulher.
- Sim, Lady Jewel.
Ela levou-me às restantes divisões da casa que estavam abertas ao staff, conhecendo o resto das escravas que Lady Jewel estava a treinar naquele momento – e tenho de ser sincera: algumas delas pareciam-me homens vestidos e maquilhados com roupas femininas. Subimos um lance de escadas, com balaustrada de madeira, e encontrámo-nos noutro corredor pejado de portas; apenas parámos ao chegar à última. Lady Jewel pegou no seu molho de chaves, escolheu uma e abriu a porta, levando-me até um quarto pequeno, com uma cama grande e um armário de madeira antiquíssimo. Ela abriu-o, retirando alguns objectos metálicos e colocando-os em cima da cama.
- Agora, quanto às regras da casa. – continuou ela, enquanto me colocava pulseiras de metal com argolas nos pulsos e tornozelos – Não consinto que haja contactos sexuais entre as minhas meninas dentro de casa sem o meu expresso consentimento. Já aconteceu antes, e tive de punir duramente os envolvidos, não quero que isso te aconteça a ti. Também quero que tenhas sempre, sempre, cuidado com a tua aparência: não vou tolerar ver uma das minhas meninas com aspecto desleixado. Baixa as cuecas.
Demorei a reagir pois não me apercebi que aquela última frase havia sido uma ordem. Apenas me mexi quando a mão de Lady Jewel me embateu na cara.
- Estás a dormir?!
- Ah, peço desculpa, senhora… – com a cara algo encarnada, baixei a tanga de látex, vendo-a pegar num cinto metálico – um cinto de castidade.
- Isto é uma medida algo bruta de forçar todo o meu staff a obedecer à minha regra de “proibidos contactos sexuais”, mas tem de ser. – suspirei ao sentir o cinto ser apertado em redor da minha cintura e do meu baixo-ventre, enquanto ela continuava a discursar:
“- Todas as portas que vires que estão fechadas à chave são para continuarem fechadas à chave: são áreas de acesso restrito, e ai de quem seja apanhado nessas salas sem a minha autorização! Puxa as cuecas para cima e compõe-te. – desta vez eu estava à espera, por isso, obedeci – E, claro está, creio que não preciso dizer que espero que me obedeças inquestionavelmente a tudo o que eu te mande fazer. Se te disser para saltares de um precipício, apenas me podes perguntar quantas vezes quero que o faças. Alguma dúvida?
Engoli em seco.
- Não, senhora.
- Estamos entendidas?
- Estamos, sim senhora.
- Óptimo! – Lady Jewel tirou-me então a trela, atirando-a para cima da cama – Vem comigo.
Saímos daquele quarto, com ela a fechar a porta à chave. Fomos até à cozinha, que, como seria de esperar, era enorme, ao estilo antigo. Tachos e panelas estavam pendurados a um varão paralelo ao tecto, com mais uma lareira acesa a um canto. Do lado mais longínquo da porta por onde havíamos entrado, perto de uns lava-loiças em mármore, estava uma rapariga morena, de uniforme preto, a lavar a loiça.
- Seis. – chamou Lady Jewel.
A rapariga voltou-se para nós, surpreendida, quase deixando cair no chão o prato que estava a lavar.
- Sim, Lady Jewel.
Aquela empregada tinha o cabelo ondulado, mais comprido que o meu, lábios finos, olhos escuros (que me olharam de alto a baixo), e uma expressão algo estranha, um sorriso trocista que nunca lhe saía da cara, como se os seus pensamentos fossem constantemente picantes. Envergava, logicamente, roupas semelhantes às minhas.
- Temos aqui uma nova criada. Durante os próximos dias, estás encarregue de a ambientar aqui à casa e de lhe dares alguma coisa para fazer. OK?
- Como desejar, Lady Jewel.
Então a mulher virou-se para mim:
- Vais ficar aqui com a Seis e vais ajudá-la com os pratos.
- Sim, senhora. – e, com isto, ela deixou-nos as duas sozinhas. Virei-me para a minha nova colega.
- Ol…
- Eu lavo, tu secas – ela interrompeu-me.
- Uhm, está bem. – agarrei num pedaço de pano e comecei a limpar os pratos que ela me entregava.
- Erm… C-como te chamas? – perguntei, a medo, entre dois pratos.
Não obtive resposta. Engoli em seco.
- E-eu chamo-me An…
- Não, não te chamas. – cortou-me a palavra mais uma vez, dando-me mais um prato para limpar.
- Como?
Seis suspirou fundo, agarrando-me a mão enluvada.
- Minha querida, quem quer que tu fosses antes de aqui vires parar, quem tu amasses, quem te amasse, a tua família, os teus amigos… Podes começar a varrê-los da lembrança. Dentro em pouco, nem sequer serão uma memória, pois irás apagá-los da tua mente. Vais sair daqui – se chegares a sair, claro está – uma pessoa totalmente diferente, com apenas um objectivo na vida: servir sem questionar, de todas as maneiras e feitios.
Suspirei, quase largando o prato que tinha nas mãos. Lembrava-me, dias antes, de pensar em como estava a precisar de umas férias; esse desejo, aparentemente fora realizado, mas com um preço demasiado grande. Acho que foi naquele momento que caí na real e me apercebi que, de facto, eu nunca mais seria livre, nunca mais poderia pensar na minha família, no meu marido, em constituir família com ele… Coloquei o prato junto aos outros, e depois deixei-me cair no chão, de joelhos (e sentindo reavivar as feridas que tinha neles), não contendo as lágrimas de tristeza pela vida que estava a perder, por passar a ser uma serva numa casa de treino de escravas sexuais…
- É, é assim que as coisas são, por aqui. E quanto mais depressa aceitares isso mesmo, mais depressa te adequas à vida aqui dentro. Agora, se fosse a ti, levantava-me daí e regressava ao trabalho. Se Lady Jewel te apanha nisso, estamos ambas lixadas… e Ela tem maneira de saber tudo o que se passa aqui dentro.
- S-sim… Tens razão. – solucei, enxugando as lágrimas. Acabei por me levantar, engolindo as minhas lágrimas, e regressar à limpeza dos pratos.

continua...

Sem comentários:

Enviar um comentário