segunda-feira, 5 de julho de 2010

A soldado e a aberração

1941. A Alemanha nazi não olhava a meios para atingir o seu fim de conquistar a Europa. Por sugestão de Himmler, havia sido criada a Elitewache (Guarda de Elite), um ramo especial das SS, apenas constituído por mulheres – mulheres essas que foram treinadas em toda a espécie de armas, tornando-se autênticas máquinas de matar. Durante meses, a EliteWache foi um espinho cravado nos Aliados, fazendo parte da blitzkrieg alemã e ajudando, por exemplo, na conquista da Grécia e da Jugoslávia.
Else Becker fechou a janela e passeou-se pelo quarto onde estava alojada, nua. A natureza havia-a dotado dum corpo escultural, com um busto preenchido sem ser em demasia, dumas ancas roliças e que terminava num par de pernas longas. Parou defronte dum espelho e pavoneou-se diante dele, admirando-se.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

O interrogatório

Estava assustada. Não conseguia ver nada, o sítio onde eu havia sido fechada não possuía iluminação decente. Podia sentir a humidade daquele sítio na minha pele, e isso fez-me arrepiar. Ou seria por causa do medo?
Umas horas antes, depois de sair de casa para ir às compras no mercado, senti uns braços fortes rodearem-me e um pano húmido ser encostado à minha cara. Tentando debater-me contra o estranho que me prendia, perdi a consciência, e havia acordado naquele lugar escuro, com os meus pulsos acorrentados por cima da cabeça. E, por muito que eu olhasse ao redor, não conseguia descortinar o que se estava a passar, ou quem me havia raptado.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A gata

Tudo estava estudado até à exaustão: a planta do banco, as rotações dos guardas, as horas em que, previsivelmente, haveria mais dinheiro em caixa, tudo. Escolhido o dia para levar a cabo o roubo, foi só esperar.
E o assalto correu às mil maravilhas: entrei no banco, sabendo de cor onde estavam as câmaras, e inutilizei-as com um tiro em cada uma. Apontei de seguida a arma a um dos funcionários, ameacei que o matava se ele não me desse todo o dinheiro da caixa, mantive os restantes (poucos) clientes sob vigilância, e, assim que os sacos ficaram cheios de notas, peguei neles e saí da instituição bancária. No total, devo ter demorado uns dois minutos. Corri para o meu carro, meti-me dentro dele e fugi dali, antes que os carros da Polícia chegassem.
Depois de ter passado os limites da cidade, não resisti a dar uma gargalhada e removi a máscara. Tudo corria sobre rodas, até bem melhor do que eu havia planeado. Liguei o rádio para tentar ouvir as notícias e saber o que a Polícia poderia já saber sobre o “ladrão”…
…e quando voltei a olhar para a estrada, estava um gato no meio da faixa de rodagem.
Instintivamente, dei uma guinada no volante para o tentar evitar, saí da estrada e fui embater contra uma árvore com um estrondo ensurdecedor; o airbag rebentou-me na cara, quase me sufocando.
Abri a porta do carro e saí, agarrado ao peito – o cinto de segurança magoara-me, com a força que fez para me agarrar ao banco. Olhei para a estrada, em busca do gato… mas não o vi.
- Filho da puta!! – gritei.
Subitamente, ouvi uma voz por detrás de mim.
- Isso não são modos de falares dos meus meninos… – e admirei-me, porque a voz era feminina – e algo sensual.
Voltei-me para trás, para a árvore, e vi uma mancha escura encoberta pela folhagem. Parecia estar poisada em cima dum dos ramos mais fortes. Então, essa mancha desceu da árvore, com um salto mortal, ficando à minha frente…
A mulher que estava à minha frente estava coberta por vinil dos pés à cabeça. O seu fato aparentava ter sido cosido de inúmeras partes, mas o resultado final revelava e acentuava as suas curvas lascivas. No seu gorro, haviam sido acrescentadas duas pregas que se assemelhavam a orelhas de gato, e o seu olhar felino olhava-me de alto a baixo. Tinha um cinto de metal, onde se encontrava preso um chicote de cabedal enrolado.
Estremeci, lembrando-me dos rumores que havia ouvido: aquela só podia ser a Catwoman, uma das mais estranhas personagens a aparecer nos últimos tempos – uma espécie de justiceira, a tentar corrigir as injustiças do mundo – e, especialmente, a tentar travar as injustiças contra mulheres. Dizia-se que ela era bastante instável…
- E então, não dizes nada? – ela continuou – A gata comeu-te a língua?
E, na verdade, eu não conseguia dizer palavra – estava a tentar descobrir uma maneira de me livrar daquela situação. Não sabia bem o quão perigosa podia ser aquela adversária, mas o meu sexto sentido avisava-me que não seria pêra doce.
- Escuta… – disse, finalmente – eu sou alguém inofensivo, e estou com alguma pressa de sair do estado. Eu tenho ali um saco com algum dinheiro, tu ficas com metade e deixas-me ir embora em paz… pode ser?
Pareceu-me ver um lampejar no seu olhar.
- Dinheiro…? Hmm… – o seu olhar caiu sobre um gato preto que estava perto da sua perna – Ena, Miss Kitty, eu diria que este senhor é o que acabou de roubar o Banco Central…
Naquela altura, vi-a distraída, e fui dominado pelo instinto; senti que me tinha de livrar dela. Num ápice, a minha mão agarrou a pistola que trazia enfiada nas calças… e, no momento em que começava a apontá-la na direcção daquela aberração, já o seu chicote se enrolava no meu braço; com um grito de dor, abri a mão, e deixei o revólver cair no chão.
- Tsc, tsc, tsc… não é assim tão fácil dares cabo desta gata. O que dizes, Miss Kitty, levamo-lo para casa? – e voltou a olhar para a gatinha que estava sentada à sua beira, como se nada fosse.
A gata deu um miado.
- Bom, também concordo. – e começou a aproximar-se de mim, enquanto eu comecei a sentir os cabelos da nuca a levantarem-se.
A partir daí, não me recordo de mais nada.

Quando recuperei a consciência, estava num espaço apertadíssimo – uma espécie de jaula, aparentemente. Agarrei as grades e tentei forçá-las, mas nada – eram demasiado fortes. E então constatei outra coisa: que a minha mão estava diferente: possuía pêlo preto e unhas grandes… gritei, horrorizado, mas a única coisa que ouvi foi um miado abafado. Apalpei a zona da cabeça, e senti que tinha uma espécie de capacete colocado.
Então, ouvi o som das botas de Catwoman a ressoarem no chão, e então, ela apareceu no meu campo de visão.
- Ora bom dia, minha gatinha!! – abriu uma das portas da jaula, agarrando numa corrente que estava presa a algo no meu pescoço; puxou-a, e fez-me sair, gatinhando, de dentro da jaula – Bem-vinda ao meu espaço de brincadeira!
Era um lugar lúgubre e escuro, com muitas correntes à vista. Dir-se-ia mesmo uma espécie de masmorra… havia jaulas como a minha, espalhadas um pouco por todo o lado, algumas penduradas ao tecto, outras mais estreitas ou mais baixas; viam-se, aqui e ali, algumas cadeiras com algemas, chicotes, camisas-de-forças…
Olhei para a mulher vestida de vinil que estava à minha frente e me segurava pela “trela”. Tentei perguntar-lhe o que havia ela feito, mas, mais uma vez, só saiu um miado aflitivo.
- Ah, minha querida… realmente, o fato que fiz para ti fica-te a matar. – pareceu sorrir – Arranjei-te um belíssimo catsuit de veludo, com unhas incluídas – mas, claro, daquelas que não magoam – e uma máscara que se assemelha à cabeça de um gato… e que te faz falar como um manso gatinho. Está já preparada para te alimentares, portanto não vai ser preciso retirar-ta quando for horas da refeição.
Enquanto falava, puxava pela corrente presa ao meu pescoço, até me fazer deitar numa cama – ou num cavalo – estreita. Prendeu os meus pulsos às algemas que possuía de lado, e de seguida colocou-se à minha frente. Acariciou a minha cabeça felina, e deu uma gargalhada:
- Fica-te mesmo bem, minha gatinha… Agora, altura de copular contigo.
Ainda não havia percebido porque me apelidava ela de “gatinha”… e creio que terá sido por aquela altura que vi o gigantesco falo preso ao seu baixo-ventre. A tremer de medo, vi-a a desaparecer do meu ângulo de visão, e senti as suas mãos – com as suas garras a tocarem-me na pele – a agarrarem-me pela cintura.
- Ronrona para mim, minha bichinha…
A dor que senti no meu ânus foi imensa, e gritei de dor – mas da minha boca (ou focinho) apenas saiu um ronronar, à medida que era penetrado pelo dildo daquela megera. Ela sorriu, deu uma gargalhada e continuou a furar-me a seu bel-prazer.
- Vais ser o meu animalzinho de estimação mais querido, minha bichaninha… Miau. – e passou-me a língua pela espinha, voltando a penetrar-me fortemente.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Larva

Fecho a porta e olho para o horizonte. O Sol acabou de se pôr, e o céu escurece gradualmente. O tempo não está muito quente, mas tenho de arranjar maneira de digerir o largo jantar… e nada como um passeio pelo parque.
Os candeeiros já estão acesos quando chego ao parque central. Apesar de estar fresquinho, a noite até está agradável. Ando, devagar, de mãos nos bolsos, a respirar o ar fresco da noite, e olho à volta, vendo as poucas pessoas que, como eu, decidiram sair à noite para um passeiozinho. Sentados num banco, um par de adolescentes abraça-se e beija-se apaixonadamente. Sorrio, ao passar por eles.
Então, os meus olhos captam algo estranho: uma luz esverdeada, perto duma árvore, um bocado fora de caminho e sem iluminação à volta. Deixa-me curiosa: o que poderá ser aquela luz? Eu sei que deve, quase de certeza, ser uma armadilha, e que detrás da árvore deverá um gajo qualquer à espera de me violar, mas estou hipnotizada pela luz – preciso de a verificar.
Dirijo-me na sua direcção, lentamente, sempre a olhar à volta, tentando ver se alguém está à volta. Não oiço nada, apenas os meus passos, enquanto ando em direcção à luz verde. É tão bonita… só que, quanto mais me aproximo dela, mais ela se afasta. Começo a sentir-me pouco à-vontade, sinto a desconfiança de que alguém me estará a pregar uma partida, a atrair-me para uma cilada…
… e, quando penso em dar meia-volta e a regressar à segurança da iluminação do parque, o chão cede.
Não caio durante muito tempo, mas lembro-me de pensar “Estou fodida…” antes de embater no chão e de perder a consciência.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Sra. Lopes

O meu nome é Alexandre. Tenho dezoito anos e, até há um mês atrás, vivi num internato em Lisboa. Foi por essa altura que a minha vida mudou…

Cresci sem pais – fui criado por uma tia muito rígida após o acidente que os matou – e fui enviado para um internato quando me tornei um fardo demasiado pesado para ela e para os seus filhos. Não sei o tipo de acordo que ela conseguiu fazer com o director, mas acabei por ficar com um quarto só para mim. Fiz desde alguns amigos, mas… nunca me senti particularmente feliz. Desde a morte dos meus pais, nunca me senti amado, nunca me senti querido…

domingo, 24 de janeiro de 2010

Jogo de prazer

Deito óleo nas mãos e passo-o pelos braços, pelo corpo. Sinto-me pegajosa, mas, ao olhar para o catsuit em cima da cama, varro essa sensação da cabeça.
Pego nele e começo a vesti-lo. Primeiro as pernas – que escorregam para o seu lugar graças ao óleo – depois o baixo torso – e suspiro ao sentir a borracha reforçada dos lábios artificiais a ficar em contacto com os meus verdadeiros lábios vaginais – e em seguida, os braços. Sinto-me confortável dentro daquela segunda pele.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Monólogos de um strap-on

Eis-me aqui, na máquina de lavar. Enfim, é a minha vida. Depois duma noite de farra, o obrigatório duche.

A minha dona não faz as coisas por menos: leva-me para todo o lado, usa-me em toda a gente, sejam homens e mulheres, que se sujeite a arrojar-se a seus pés e a adorá-la. E, como presente, paga ou castigo (dependendo das ocasiões), ela enfia-me em todos os buracos possíveis.

Ontem, não foi diferente. Munida de seu chicote (que está ali em baixo, também a lavar), entreteve-se a torturar um pobre rapaz e, no final da noite, fez-me entrar no seu rabo. Foi uma experiência algo infeliz, se o puder dizer… se dependesse de mim, depois de tudo o que ele passou, eu sujeitava-o a um enema.

Mas enfim, não me posso queixar. Depois de dois dias de folia, vou ter uns diazinhos de descanso – afinal de contas, durante a semana não há grande vagar de ir até um clube de BDSM abusar de submissos, e por isso, normalmente, desfruto dumas bem merecidas férias. O vibrador que está aqui a meu lado, coitado, é que não tem essa sorte: todas as noites a nossa dona o usa para se saciar.

Quanto a mim… como já disse, entro em muito lado. Entro em bocas, entro em vaginas e entro em rabos. De todos os três, prefiro entrar nos órgãos femininos: são mais agradáveis, mais confortáveis de se penetrar. Quando me enfiam em bocas, é uma pasmaceira desgraçada, apesar das vítimas me chuparem duma ponta à outra, me beijarem e me lamberem as “bolas”. Não há gritos, não há dor, nada… que, ao invés, há de sobra sempre que entro no posterior de alguém. Só que existe um grande problema desse orifício: é que, às vezes, encontro um que não está propriamente lavado… até me arrepio só de pensar nisso. E o pobre dono (ou pobre dona) desse traseiro também, quando a dona me tira e repara no meu estado: é logo chicotada até a carne começar a ficar roxa. E só por isso é que prefiro as vaginas: menos surpresas desagradáveis. Tudo bem que saio de lá sempre envolvido em nhanha, mas enfim, são os ossos do ofício.

E não são só as ratas das outras que me sujam: afinal de contas a minha dona também tem orgasmos em mim… é o que dá ser um strap-on com dois dildos. A parte de mim que entra dentro da dona é a que, invariavelmente, acaba sempre mais suja – afinal de contas, ela não se contenta só com um orgasmo, precisa sempre duns dois ou três até se sentir saciada. E longe – muito longe, ainda antes destas noitadas dominantes – vão os tempos em que ela me colocava à cintura, nua, apenas de botas altas, e me utilizava para se masturbar, ora enfiando o meu falo mais comprido o mais fundo possível na vulva, ora colocando-me como deve ser e enfiando o meu dildo mais pequeno – o reservado para ela – no sítio que é devido e a masturbar-se com ele. Acho que, depois dessas noites, eram sempre precisas duas passagens pela máquina para ficar totalmente limpo… vá lá que esses tempos já lá vão.

Argh, acho que o ciclo da máquina se está a acabar. Tenho de me calar, senão ela ainda se espanta e me troca por um novo… e, parecendo que não, eu gosto do meu trabalho.

[história criada para a rúbrica "Conto da Semana" do fórum BDSMPortugal]

domingo, 10 de janeiro de 2010

Uma prenda de Natal


(um grande beijo para a minha Femme Parralel, sem a qual estas linhas não teriam sido possíveis)

Foi neste Natal último que tive uma das experiências mais marcantes da minha vida.

Era véspera de Natal, e, infelizmente, por motivos ligados à faculdade, não pude ir ter com a minha família. O facto de ter três projectos para entregar no início de 2010 fez com que, pela primeira vez em 25 anos, tivesse de faltar à consoada lá na terra. Depois de jantar um bocado de bacalhau aquecido no micro-ondas, liguei para lá, a desejar à minha malta um feliz Natal, e depois desliguei, ao ouvir alguém tocar-me à porta. Levantei-me e fui ver quem era.