sábado, 26 de dezembro de 2009

No Vasco da Gama

Olá, Mónica, hoje adorava almoçar contigo. Fiz marcações no Portugália do Vasco da Gama para as 13h, tenta não te atrasar, sim, querida? Beijos, Paula

Marco releu a mensagem no seu telemóvel, e suspirou ao confirmar o que lá vinha escrito. Nervosamente, pousou-o na mesa de cabeceira, tentanto arranjar uma solução. A sua namorada havia-o chamado pelo seu nome feminino, o que significava que ele teria de ir ao almoço vestido com as roupas que Paula havia comprado para ele: roupas de mulher. E, para piorar as coisas, o seu carro estava no mecânico…

 
Suspirando, dirigiu-se à casa de banho, pegando na gilete e fazendo a pouca barba que tinha. Despiu o pijama e abriu a última gaveta do seu roupeiro, retirando de lá algumas peças: um soutien, tanga, corpete e cinto de ligas encarnados, meias cremes, uma saia comprida preta e branca, uma camisola justa e um casaco.
Demorou quase um quarto de hora a colocar os seus seios artificiais, a vestir-se e a maquilhar-se. Para finalizar, escolheu uns sapatos de salto-agulha pretos – os únicos sapatos que tinha eram daquele género, mesmo.
Antes de sair de casa, olhou-se ao espelho uma última vez, tentando ver se havia alguma coisa que pudesse ter descurado. Com um sorriso embaraçado, pegou na sua mala de cabedal escuro com tachas prateadas e saiu de casa.
Andou durante um par de minutos até à paragem do autocarro, tentanto andar o mais descontraídamente possível, sem levantar o mínimo de suspeitas. Não havia muita gente à espera, e os que haviam pareciam não lhe passar cartão. Finalmente, após alguns momentos de impaciência, Marco, sob o seu disfarce de Mónica, viu o autocarro amarelo aproximar-se da paragem.
Entrou na viatura, ouvindo os seus saltos ressoando pelo autocarro, parecendo-lhe vislumbrar alguns olhares de dúvida assim que ele passou, mas nada mais, e sentou-se no lugar mais refundido possível.
Então, recebeu mais uma mensagem no telemóvel de Paula:
Linda, estou à tua espera na entrada do Vasco da Gama.
Quando o autocarro chegou às imediações do centro comercial, Marco levantou-se e saiu. E lá estava ela, de braços cruzados, à sua espera. Com uma camisola justa, a delinear-lhe as curvas bem salientes e os seios robustos, uns jeans rotos aqui e ali, com umas botas pretas brilhantes pelo joelho. Aproximou-se dela, vendo-a sorrir.
- Estás tão linda, Mónica… – disse, beijando-o na boca logo ali, sem se preocupar com os restantes transeuntes. Para eles, eram duas mulheres a beijarem-se…
Ele abriu a porta para Paula passar, depois juntaram os braços e ambos passearam pelo centro comercial, falando, comentando, rindo-se. Marco corava sempre que pressentia algum olhar mais demorado na sua figura, mas a mão de Paula no seu braço reassegurava-o e confortava-o.
Quando chegaram as 13h, procuraram a escada rolante mais próxima e subiram até à Portugália. Após o empregado ter trazido os pratos, Marco sentiu por mais de uma vez uma das botas de Paula a roçar-lhe na perna. Sentiu-se corar, e olhou para ela: estava sempre a olhar para o seu prato, mas com um sorrisozinho trocista.
Continuaram a falar, Marco sempre tentando disfarçar a voz, sempre olhando por cima do ombro, a ver se havia alguém com cara de caso a olhar para ele com ar estranho. Nada. Mas nem mesmo assim se sentiu descansado.
Depois do repasto e de pagarem a conta, levantaram-se para se irem embora. Paula passou por Marco, e os ouvidos dele captaram um “vou comer um macho gostoso…” vindo da direcção dela. No entanto, quando olhou novamente para a sua namorada, ela havia continuado em frente, como se nada se tivesse passado.
Sairam do restaurante, tomando o elevador para o piso -1, onde Paula havia deixado o seu carro. Entraram na enorme caixa metálica, que iniciou a sua marcha descendente, no meio dum grupo de desconhecidos. Paula agarrou na mão de Marco, sub-repticiamente, e fê-lo apalpar o baixo-ventre da rapariga, e o seu olhar não conseguiu esconder a surpresa ao sentir o alto inesperado que ela tinha onde não deveria ter nada.
- Mas… – começou, mas calou-se quando ela meteu um dedo nos lábios, exigindo silêncio. Marco calou-se, começando a tremer de expectativa.
Foi no carro dela, em pleno parque de estacionamento do Vasco da Gama, que tudo se consumou. Sentado ao colo dela, de costas, sentindo o strap-on de Paula a violar o seu ânus, Marco esqueceu-se dos receios de que alguém o pudesse ouvir e começou a gritar de prazer, enquanto Paula lhe acariciava os caracóis louros, apelidando-o de puta e de rameira. Viu um casal a olhar para eles, mas não ligou. Era, realmente, uma puta. E gritou-o.

[história criada para a rúbrica "Conto da Semana" do fórum BDSMPortugal]

(história seguinte)

1 comentário:

  1. Esta història tem um desenrolar diferente das anteriores, gosto imenso! :D

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